quarta-feira, 15 de julho de 2009

Jornalismo para a vida


Na gaveta de meus projetos e sonhos, que contam com a elasticidade desta existência para viabilizá-los, está a crônica Os Jornais, de Rubem Braga, com a frase que alicerça meu ideal futuro: “Os jornais noticiam, tudo, menos uma coisa tão banal de que ninguém se lembra: a vida”.
Há quase uma década, tenho me dedicado, de modo apaixonado, a buscar conexões interdisciplinares, entre áreas do conhecimento que evoquem a sacralidade da vida, em seus mais diferentes aspectos, envolvendo temas como: a dignidade, o acesso aos direitos que legitimam a cidadania, a espiritualidade, a afetividade, a humanidade e afins. Como tantos, optei pelo jornalismo pelas mesmas razões românticas daqueles que acreditavam na função social que a atividade jornalística possuía. Do romantismo universitário passei a viver uma paixão não correspondida, nas primeiras experiências práticas, até momentos de enorme desprazer que a promiscuidade entre o Departamento Comercial e o Departamento Jornalístico das redações e emissoras de rádio e TV adotavam como prática cotidiana. Confesso ainda: a sensação de ter sido a primeira mulher no Estado a ocupar o cargo de Secretária de Comunicação, em um estado como o Maranhão, se assemelhava, muitas vezes, a de quem é estuprada, diariamente, por razões cujos motivos comentarei um dia, de modo mais detalhado.
Fiel ao bom e velho ditado de que “mais vale acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão”, defendo a proposta de que a informação deveria se converter em solução para os problemas sociais. A constatação de que existe uma abordagem reducionista no modelo de jornalismo praticado pela atualidade ratifica a noção de que o modo de informar, quando não caracteriza a notícia como um produto a mais no mercado, transforma-se em moeda política, largamente utilizada em nosso País, para a compra de consciências lesadas pela falta de Educação, Saúde, Saneamento Básico e outros direitos e garantias fundamentais.
A enorme lacuna deixada pela Mídia é consequência da forma limitada de exploração dos fatos, em sua maioria, gerados pela ausência de um Desenvolvimento Humano Integral. Há uma enorme variedade de questões e subtemas ocultos em cada matéria jornalística sobre homicídios, chacinas, surtos de doenças, catástrofes ecológicas e outros, inclusos nos pacotes de problemas da atualidade.
Como educomunicadora, também faço a defesa inarredável de que a forma de noticiar necessita contribuir para a formação de uma consciência em favor da justiça social e da vida, com a conversão necessária de temas da chamada antigamente de Grande Imprensa em debates e possíveis soluções para os problemas da atualidade, que poderiam estar anexadas a cada notícia. Acredito na possibilidade de contribuição, por meio da reflexão e análise do noticiário, para a formação de uma consciência cidadã, solidária, voltada aos direitos humanos, à ecologia social e à vida. Em suma, é possível transformar informações em commodity para elaboração de projetos e soluções aos problemas sociais do País. Ou ainda, conforme a precisão do enunciado do professor Edvaldo Pereira Lima, Doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), “um jornalismo de transformação. Que trabalha em prol da transformação individual e coletiva.” Para reforço da minha utopia realizável e de todos aqueles que acreditam que uma outra comunicação é possível, transcrevo suas palavras:

“...advogo para a narrativa jornalística de qualidade uma outra atitude. A postura proativa. O jornalismo aberto a esses novos caminhos em que percebemos a realidade não mais sob uma ótica reduzida, centrada apenas num patamar excludentemente racionalista em excesso. Um jornalismo que não fica à mercê do relato passivo dos acontecimentos, mas que percebe o eclodir de tendências e probabilidades, que acompanha a gestação de visões inovadoras, que sai do lugar comum. Que focaliza uma visão complexa, buscando uma compreensão ampla, ajudando o ser humano a encontrar novos significados, auxiliando-o a ampliar seu grau de consciência de si mesmo, do outro, da existência (...)“

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