domingo, 30 de dezembro de 2012

Francisco de Assis e a roda dos acontecimentos



Era uma manhã de certo dia 20 de novembro que parecia dissolver a véspera áspera.  Um banheiro numa casa de praia me recepcionava, de forma excêntrica, com uma pequena imagem, talhada em madeira, de São Francisco de Assis. O santo iconoclasta do Capitalismo destoava do ambiente reservado aos mais íntimos e secretos rituais de higiene. Lembrei-me da velha frase da adolescência roqueira: “o banheiro é a igreja dos bêbados”. A ausência de embriaguez anunciava que meus próximos capítulos seriam de muita lucidez. Um clarão acompanhou-me durante  boa parte dos 365 dias de 2012, causando, por vezes equivocadas, desconforto em minha alma que tinha por hábito abrigar-se em becos escuros. Por décadas fui devota de Eros, cuja adoração, a partir de então, passava a ser substituída pelo singelo São Francisco.

Uma digressão precisa ser feita: reza a lenda que, numa noite, Psiquê apaixonada pelo amante Eros que o visitava todas as noites de escuridão, resolve acender uma vela para enxergá-lo. Ele, ao ter a sua identidade revelada, foge para longe. A partir então, Psiquê passa a vagar pelo mundo numa eterna e desenfreada busca pelo amor perdido. Uma busca de toda uma humanidade trôpega, à procura do desejo. Já São Francisco, sintetiza a máxima reveladora da Lei do Retorno: “é dando que se recebe”. Ele nos impele a uma comunhão universal, em que cada um contribui com uma cota de amorosidade que se conecta e irradia em uma grande rede de alta tensão do Bem. O enunciado é lógico. No teorema de nossos gestos, recebemos aquilo que damos, ainda que o emissor seja alguém diferente de quem já damos. A mensagem franciscana é encontrada em diversas filosofias, a exemplo do Taoísmo, com o mesmo sentido original.

Eros e São Francisco se apresentam antagônicos. Um se manifesta na escuridão e outro é luminosidade, a irradiar-se pela Teia Universal. Francisco é real e Eros é mito. O primeiro se despe das amarras da materialidade para melhor se expressar, em liberdade. O segundo se manifesta de modo oculto e demanda uma busca insana, quase sempre sem ter fim, apenas substituída por outra procura. É assim que grande parcela das pessoas classificam o que rotulam de “amor”. O amor, se fosse cego, não exigiria que o amado se presentificasse.

Corrompidos vêem na máxima franciscana um jogo de interesses e de trocas. Do ponto de vista da Lei de Ação e Reação, recebemos exatamente aquilo que damos. O ciclo que envolve a roda dos acontecimentos é movido por tal engrenagem. Basta estar atento aos movimentos para perceber.

Eu jamais poderia menosprezar a presença daquela escultura minúscula de Francisco de Assis, testemunhando a minha primeira manifestação fisiológica, na manhã de um domingo claro de sol. Ao me deparar com a imagem, cheguei a pensar que se tratava de Santo Antônio, o casamenteiro. Mas a artimanha do destino foi ainda mais sagaz do que eu poderia imaginar.  

sábado, 29 de dezembro de 2012

Dica de Reveillon

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Balanço em um conto hábil



2012 encerra seu ciclo, preparando-se para fechar as cortinas. Um ano de sacrifícios, de dedicação quase integral às tarefas laboriosas. Noitadas e celebrações dionisíacas foram abolidas e substituídas por horas de viagem, por textos produzidos e por muito, muito esforço intelectual. Sinto-me em bom condicionamento profissional, quase uma maratonista. Optei pelo caminho do trabalho duro, da busca consistente que a cada dia se distancia dos atalhos fáceis escolhidos por tantos que se perderam no caminho. Não, ainda não me achei e, tampouco, possuo esta ambição. Ser buscadora alimenta meu espírito. Prossigo com a consciência alargada de que a Vida nos retorna exatamente aquilo que ofertamos a ela – mesmo quando o Divino Mistério Profundo nos açoita de dor, com sua Matemática Celestial.
Meses equivalentes a passos de muitos quilômetros percorridos. Dias que foram tragados com força. Tive duas vitórias profissionais importantes, editei jornais, fiz roteiros de vídeos, produzi Cadernos Especiais, dei consultorias e algumas palestras, ganhei uma sobrinha linda com nome de música de Tom Jobim, Isabella, para fazer côro a outras belas composições de nossa família, Luísa e Clara.
Neste texto com sotaque de Danuza Leão e pitadas de Martha Medeiros, ouso confessar que consegui quitar um apartamento, decorado com meu abençoado suor. Abuso da escrita feminina para dizer que escrevi poucas cartas para mim mesma, vi zilhões de filmes (pra variar) e li alguns livros, menos do que deveria em função da aridez da agenda, muitos escolhidos por dialogarem com meus interesses do momento, a exemplo de Os Últimos Soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais e outros. Não publiquei meu livro, adiado para mais uma lista das resoluções do Ano Novo, nem resolvi estudar em outro País – ficando mais este item para incluir nos próximos anos. Viajei pouco para fora do Estado e, inclusive, quase não viajei para dentro de mim mesma. Voltei ao lugar em que todos pretendem se esbaldar na juventude, mas onde escolhi para me aposentar, o Rio de Janeiro e viajei de carro até a bela e afrodisíaca Jericoacoara, no Ceará (Uau! Diria o mais voyeur dos leitores!). Desintoxiquei-me em rios e praias desertas, exercitando o xamanismo pessoal. Fiz pouco para o tanto que pulula dentro de mim. Mas sobrevivi à mais desafiante e extraordinária aventura humana, a própria Vida. Inteira. Melhor. Mulher.
E com um detalhe: este ano resolvi abolir alguns Especiais de Roberto Carlos que se repetiam sempre em minha vida. “O importante é que emoções eu vivi!”. Saúde, 2013!

domingo, 16 de dezembro de 2012

FELIZ 2013