sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Formigueiro de Gente


As formigas na alma
Sempre em estado de festa
O resto são meras vestes
Fogareiro no meu interior
Na mesa acesa a lamparina
Devoro a vida com farinha
Meus pés no cais? Jamais!
Quero mais
Um Porto é sempre outro
E a rota nunca é reta


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Seu Bezerra: patrimônio da minha humanidade


Ele se foi. Com seu sorriso de monge, era a personificação do trecho evangélico: “Bem aventurados os mansos porque possuirão a Terra”. Tornou-se, de fato, dono absoluto dos dias tão transitórios aqui neste planeta, mas tinha a plena convicção de que seu reino também não era deste mundo. Nestes tempos áridos, em que a rispidez e a arrogância são, equivocadamente, tidas como “vantagens competitivas”, José Bezerra, meu avô, deixou a mais preciosa de todas as lições: a da humildade que se sobrepõe às pequenezas, conforme o preceito cristão. Era um pobre de espírito, no sentido de ser desprovido de vaidades, orgulhos, conflitos, entulhos emocionais e outros adereços ou firulas que, com o passar dos anos, vão tornando a atmosfera pessoal cada vez mais pesada.
Um homem simples. Ah, como a simplicidade é valiosa! Era suave, leve como são as pessoas que ainda insistem na virtude da doçura, neste condomínio de amarguras. Embora alguns autores do Além considerem a Terra, um Vale de Lágrimas, Seu Bezerra era um árduo defensor da alegria. A sua saudação preferida era: “Paz e Alegria!”. Advogava em favor da paz, mas não aquela paz inóspita de um Céu de monotonia e tédio, mas a paz com alegria edificante, que entusiasma o espírito. Não é à toa que, etimologicamente, a palavra Entusiasmo guarda o termo sagrado, “Deus”, significando, do grego, “em Deus”. Lembrava Santa Teresa de Ávilla, que dizia: “Senhor, livrai-me dos santos carrancudos!”.
Um dia, ao editar a primeira edição do jornal criado por Moab José para o Lar Pouso da Esperança, ao entrevistá-lo, perguntei, com curiosidade de jornalista e de neta: “O que o senhor recebeu, em troca, ao ter abdicado de muitas coisas, para se dedicar à Doutrina Espírita?”. Sem hesitar, ele me respondeu, com riso de menino: “Ah, mas eu recebi muitas graças ao longo dos anos. E também algumas gracinhas.” Nunca esqueci a outra lição, tão próxima da humildade, contida naquele ensinamento que falta aos que morrem queimados na Fogueira das Vaidades: “De que vale o homem ganhar o mundo e perder sua alma?”
Agora que a Ciência começa a perceber a estreita relação entre Otimismo e Felicidade, tenho a forte impressão, impregnada de certeza, de que meu avô era um senhor feliz. Nunca o vi reclamar, dizer que algo não ía dar certo ou falar mal de alguém. Era generoso a ponto de me fazer chorar. Um dia, ainda garoto, correndo no estacionamento da Ufma, Marivando Louzeiro descobriu que eu e minha prima Mônica, erámos netas de Seu Bezerra e de dona Aimée: “Vocês são netas desse pessoal lá daquela casa? Rapaz, esse pessoal é bom demais!”.
Ele deixa esse imenso legado de generosidade e de dedicação ao Bem, para que, nós, seus descendentes, possamos fazer bom proveito no cultivo. Jamais vou esquecer a cena dos vigias de carro, dos feirantes, das irmãs dependentes de drogas que perambulam pelas redondezas da rua da Saúde, chorando sobre o caixão onde meu vovôzinho descansava do peso da matéria. Que nem diante das maiores tristezas, aquelas de envergar a alma, eu esqueça os ensinamentos deste homem que tive o privilégio de conviver durante 97 anos. Saudades eternas, meu vovô Bezerra.


domingo, 13 de janeiro de 2013

Canções de Anas