quinta-feira, 29 de abril de 2010

Piada eleitoral sem graça: o preço pago por uma jornalista



A história registra que, na França do século XVIII, quando o Duque de Orleans vendeu metade dos cavalos das estrebarias reais, o jovem François Marie Arouet, o Voltaire, comentou que teria sido mais sensato desfazer-se de metade dos asnos que enchiam a corte real.

Depois de dois anos, exercendo o cargo de Secretária de Comunicação do Governo do Maranhão, não me tornei fazendeira, nem dona de cavalos de raças: preferi combater a asnice, submetendo-me a uma seleção para pós-graduação na USP, Universidade de São Paulo. Sou jornalista profissional, nunca exerci outra atividade em minha vida. Assim como Voltaire, após o comentário sobre o Duque de Orleans, passei a ser culpada por tudo de ruim que acontecia no reino. De Bezerra no sobrenome, passei a Boi de Piranha, embora, paradoxalmente, tenham me atribuído adjetivos mais próximos de uma feroz predadora que atacava os pobres indefesos veículos de comunicação do Estado, obrigando-os a criticar a família Sarney. Fui chamada de mensaleira, acusada de responsável pela desconstrução da imagem da então senadora Roseana Sarney, quase um gênio do mal, uma espécie de Joseph Gobbels do Governo José Reinaldo Tavares. Houve um jornalista que chegou a pedir minha prisão, com base em pedaços de papel sem nenhuma legitimidade - o mesmo, por sinal, que mandava recados me intimidando a enviar contratos publicitários para seu jornal.

Fui vítima de uma farsa montada, com documentos adulterados, não oficiais, misturados a fotos com exposição pública de minha vida pessoal, inclusive de uma de minhas sobrinhas, à época com apenas 3 anos de idade, exibida nas páginas de um jornaleco chamado Veja Agora, em uma escandalosa infração do Estatuto da Criança e do Adolescente. O tal CD, contendo supostos arquivos com textos atribuídos a mim, não por acaso chegou a constar no rol de denúncias apresentadas ao STF para a cassação do ex-governador Jackson Lago. Virei assunto nacional, sendo criticada até pelo portal Comunique-se. Somente em 2008, a mais respeitada revista semanal brasileira, a Carta Capital, no artigo, Oligarquia resiste, publicado em 20/12/2008, reconhece, por intermédio do jornalista Mauricio Dias: “Há um argumento na acusação que é pura fantasia: o uso indevido dos meios de comunicação para favorecer Lago. Só que 95% da imprensa maranhense está sob controle do Sistema Mirante, pertencente ao clã Sarney. O argumento, por absurdo, nem foi encampado pela Justiça.”

Agora, o assunto da vez são os gastos com verbas publicitárias, tanto do Governo Roseana Sarney (44 milhões em um ano), quanto do Governo Jackson Lago (cerca de 21 milhões em 43 dias). Nenhuma citação aos recursos do período em que respondi pela Comunicação do Governo José Reinaldo, pelo simples fato de que os processos de pagamento, dos quais fui a ordenadora de despesa, referem-se a verbas inferiores aos citados governos - recursos que foram democratizados e pagos a dezenas de pequenas emissoras de rádio e TV do interior do Estado, sem que a maior parte deles fosse drenados a apenas um Sistema de Comunicação. Recentemente, e de forma sorrateira, ventríloquos de certos políticos ainda estiveram debruçados sobre os processos de pagamento, dos quais foi a ordenadora de despesa. Informo aos interessados que, em dois anos recebemos prêmios, como a medalha da campanha Eu & Você na Luta contra a Aids, na categoria Produtos e Serviços do Prêmio Colunistas Norte e Nordeste 2005 e outra na categoria Mídia Exterior, com um outdoor feito com máscaras de fofão. Recebemos ainda um reconhecimento do TCU, Tribunal de Contas da União, que considerou a comunicação como fundamental para que o Maranhão saísse da situação de alto risco em febre aftosa. Produzimos o primeiro programa de rádio popular do Governo do Maranhão, o Marrapá, que incomodava os mais oficiosos, tornado-se um case de sucesso entre as classe B e C. Trabalhamos muito e convertemos a verba pública destinada à comunicação em informações de interesse da população. Indubitavelmente, sem informação não há cidadania. O Maranhão há de chegar à época em que Comunicação Pública signifique, exclusivamente, ressonância popular e via de acesso aos serviços de Saúde, Educação, Emprego e Renda, em suma, desenvolvimento.

Continuo sobrevivendo da minha profissão, escrevendo matérias, produzindo releases, gerenciando processos de comunicação, com a cabeça erguida e a dignidade que aprendi com os professores Elenice e Alexandre Botão, pais e mestres em minha existência.




Aviso aos navegantes: a proposta do blog sempre esteve voltada aos temas de literatura, cinema, música, emoções baratas e afins. Peço desculpas aos leitores por abordar um assunto indigesto, mas que, finalmente, já pode ser digerido com mais facilidade.





 






quarta-feira, 28 de abril de 2010

Cartunista Robert Crumb é presença confirmada na FLIP 2010


Símbolo da contracultura nos anos 60, Robert Crumb é o décimo autor a confirmar presença na Festa Literária Internacional de Paraty. Com um humor sombrio, como definiu o crítico literário Harold Bloom, Crumb lançou, no fim de 2009, Gênesis – uma versão em quadrinhos do mais antigo livro da Bíblia. Para lançar a obra de 210 páginas, o cartunista se dedicou, por mais de quatros anos, aos estudos religiosos – desde as mais diversas leituras sobre o texto bíblico à pesquisa de registros fotográficos da Terra Santa.
Agnóstico declarado, antes de adaptar o livro do Gênesis para os quadrinhos, Crumb já havia transposto obras de Franz Kafka, Charles Bukowski e Philip K. Dick. Entre os títulos publicados no Brasil, Kafka de Crumb, Fritz, the Cat, Mr. Natural, Mr. Natural vai para o hospício e Minha Vida. Nascido na Filadélfia, Estados Unidos, em 1943, Crumb vendeu quadrinhos com a mulher, na época grávida, pelas ruas de São Francisco, colaborou com o roteirista Harvey Pekar nos anos 70 e foi tema do documentário Crumb, lançado em 1994 pelo diretor Terry Zwigoff. Em parceria com a esposa Aline Kominsky, produziu quadrinhos autobiográficos publicados pela New Yorker e reproduzidos no Brasil pela revista Piauí. Vive com a família no sul da França desde 1991.

Texto do Blog da Flip, Festa Internacional de Paraty

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Clássicos, dramas e a velha comédia humana


O domingo de chuva me trouxe um sofá quente e um filme requentado: a Igualdade é Branca, da trilogia do diretor Krzysztof Kieslowski. Nele, o personagem polonês Karol, após ser humilhado pela ex-esposa, tece uma ardilosa trama e, mesmo amando-a loucamente, se vinga, impiedosamente, da bela mulher. A película me remeteu às irritantes considerações inconclusivas sobre as tais Sem-razões do Amor, como no poema drummondiano: “eu te amo porque não te amo. Bastante ou demais a mim.”

A cena final das lágrimas do homem cruelmente apaixonado, que observa através de binóculos a insanidade da moça consumida por um amor irrealizado pela tardia descoberta, é comovente. Um chute na estética “mocinha” de Hollywood e em seu clássico golpe do Happy End, do qual todos fomos vítimas um dia e que, vez por outra, voltamos a insistir em protagonizar novamente.

Mesmo após 30 anos de estudos sobre mecanismos psíquicos, Freud declarava não ter desvendado a pergunta: O que quer uma mulher? O filme também me fez questionar: em 5 milhões de anos, o que a civilização humana quer do amor?

Li, no início deste ano, uma entrevista com a tetraneta de Dom Pedro II, Paola de Orleans e Bragança que respondeu à pergunta sobre quem se classificaria como “príncipe encantado”. Para ela, aquele que tivesse nobreza relacionada ao caráter. Mas nobreza nem sempre funciona como pré-requisito para as paixões avassaladoras, aquelas incrustadas nos herdeiros do trágico modelo shakespeareano. “Hoje as pessoas procuram mais companhias do que um companheiro”, diz com realismo a descendente da Família Real Portuguesa.

Triste do amor, tão enaltecido pelos clássicos do cinema e da literatura, reduzido em nossos tempos de 140 caracteres do Twitter, a um apêndice do cotidiano. Talvez por isso tantos prefiram alimentar-se das emoções desenfreadas, contidas nos amores contrariados. Sábio foi o gênio Machado de Assis que, com o  sarcasmo habitual, cunhou a frase: “O amor contrariado, quando não leva a um desdém sublime da parte do coração, leva à tragédia ou à asneira."

O MINISTÉRIO DA SAÚDE EMOCIONAL ADVERTE:

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Cinema e Psicanálise