quarta-feira, 8 de julho de 2009

Cinzel do meu eu


Tenho o hábito atávico de manejar as palavras, cavando traduções absurdamente exatas para o inapreensível que habita em mim. Uma mania de resumir em títulos a verborragia tresloucada, desorganizada que compõe meu tecido íntimo. Ultimamente, ando me desenhando assim: sinto hemorragias de flávias em mim... orgasmos em minhas circunvoluções cerebrais. O momento de fertilidade acentua ainda mais essa busca, que consiste em tarefa semelhante à realizada pelo cinzel, em que estão obrigatoriamente incluídos exercícios sentimentais, questões relacionadas ao revolver de mim mesma, tendo como princípio norteador a certeza da finalidade superior da existência. No entanto, essa certeza é uma ilha cercada de dúvidas, cada vez menos atormentadoras para mim, mas que fortalecem minha musculatura emocional e impulsionam meu caminhar. Com uma nesga psicanalítica, nestas minhas incursões, adoto o que propõe o antropólogo Clifford Geertz: “se você não sabe a resposta, discute a pergunta”.
Aos abstêmios que sofrem do fígado, aos que incluem o mau humor em suas necessidades fisiológicas diárias, essa exposição crua de mim mesma pode parecer repleta de pinceladas de devaneio nascisístico. Com fobia de holofotes, considero tal mania um modo peculiar de me dizer, uma maneira de me encarafunchar - coisas de quem, frequentemente, prefere habitar as próprias cavernas, abrir as gavetas dos porões da alma. Sou uma buscadora, já disse. A busca é, por vezes, dolorosa, outras, deliciosa! Os excessos exteriores não me bastam. Nem a alegria pasteurizada dos macaquinhos amestrados, os sorrisos macdonaldizados, muito menos o açougue do sexo banal da contemporaneidade descartável.
Lá fora, é cada vez mais crescente a imbecilização epidêmica dos empanturrados por uma felicidade fraudulenta indigesta. Há alguns meses, traduzi um episódio pessoal desta forma: ALMA NUA: PROIBIDA PARA MENORES DE ESPÍRITO. A prática desse tipo de nudismo faz bem a mim. Nele, não cabe a deselegância dos que se vestem de trajes variados para cobrir suas vergonhas e seus medos. Prefiro dedicar horas silenciosas às palavras do meu quintal a ter que comprar ingresso para o Baile de Máscaras da atualidade!












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