quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Em ritmo de Reveillon!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Carapaça da Lagosta




A lagosta vive tranqüilamente no fundo do mar, protegida pela sua carapaça dura e resistente. Mas, dentro da carapaça, a lagosta continua a crescer. Ao final de um ano, sua casa fica pequena e ela tem de enfrentar um grande dilema: ou permanece dentro da carapaça e morre sufocada ou arrisca sair de lá, abandonando-a, até que seu organismo crie uma nova carapaça de proteção, de tamanho maior, que lhe servirá de couraça por mais um ano.

Vagando no mar, sem a carapaça, a lagosta fica vulnerável aos muitos predadores que se alimentam dela. Mesmo assim, ela sempre prefere sair. Dentro da carapaça, que se transformou em prisão, ela não tem nenhuma chance. Fora, sim. Também nós, muitas vezes, ao longo da vida, ficamos prisioneiros de várias carapaças: os hábitos repetitivos, os condicionamentos alienantes, as situações às quais nos acomodamos mas que, exauridas e desgastadas, nada mais têm para nos oferecer. E acabamos, por falta de coragem de mudar, nos acostumando ao tédio de uma vida monótona que, fatalmente, como a velha carapaça da lagosta, acabará por nos sufocar.

Façamos como a lagosta: troquemos a velha e apertada carapaça por uma nova. Mesmo sabendo que, por algum tempo, estaremos desprotegidos ao enfrentar uma nova situação. Largar o velho e abraçar o novo é, muitas vezes, a única possibilidade de sobreviver por mais um ano. Até que cresçamos ainda mais e, novamente, tenhamos de mudar de carapaça.
_______________________
O texto acima é de Luís Pellegrini, diretor de redação da revista Planeta, jornalista, escritor, tradutor, autor dos livros Os pés alados de Mercúrio e A Árvore do Tempo, ambos da Axis Mundi Editora, e Madame Blavatsky, da Editora T. A. Queiroz. Ele integra a série RE-SOLUÇÕES DE ANO NOVO deste blog.















Na trilha de Márcio Vasconcelos

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Verdade

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Pateta desde criancinha


Campanha do Facebook pede para cada usuário substituir a foto do perfil por um personagem de quadrinhos ou desenho animado.

Dedico-me a tecer, portanto, considerações infantilóides, de conteúdo impróprio para adultos.

Embora a natureza mostre ser desnecessário explicar, serei para sempre Pateta.

Pateta: cão antropomórfico de físico magro, esguio, alto e desengonçado, conhecido pelo público por seu jeito atrapalhado, engraçado e bondoso e chapéu singular. Criado por Walt Disney, em 1932.

Abomino os ratos, do tipo Mickey: esperto, chato, sabichão.

Os idiotas são mais afáveis.

Não me apetecem os heróis, milimetricamente projetados para o êxito, garantindo o final feliz do roteiro e negando as lógicas difusas, mencionadas por Martín-Barbero.

Detesto Mickeys, Rabugentos, o Dick Vigarista.

Prefiro a lerdeza ingênua de um Pateta que, até para se transformar em Super, precisa comer amendoins baratos.

Kriptonita enfraque. Amendoins são afrodisíacos.

Aprecio o desleixo despretensioso de um Peninha e seu rico universo bagunceiro à monotonia de um Tio Patinhas, no círculo enfadonho da Sala de Preocupações.

Admiro o Salsicha mais do que a Penélope Charmosa: fútil, inútil.

O Zé Buscapé e a Lula Lelé caem bem em mim.

A realidade é que nem sempre desenhos e fantasias são garantia para as melhores animações.





























domingo, 5 de dezembro de 2010

Lígia

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O MELHOR AMIGO DO PIAUIENSE

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Conto de Facas


Era uma vez uma história sem sim.

De um conto sem fadas.

De um ponto sem fim.

Era uma vez uma história de bruxas que transformam o destino em sapo.

De um príncipe do princípio que cai no precipício.

Era uma vez que não teve vez.

E foram infelizes para sempre.

Até que a morte os inocente.

E a paixão os separe.

Eterna-mente.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Em cartaz


São Luis recebe, pela primeira vez, a 5ª edição da Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul. A programação tem início hoje (29/11) e prossegue até o domingo (5/11), no Cine Praia Grande. A entrada é gratuita. No evento de abertura, marcado para às 19:30h, haverá a exibição de um curta-metragem e do longa PERDÃO MISTER FIEL, de Jorge Oliveira. Pela primeira vez, um documentário mostra como morreram alguns jovens que se rebelaram contra o terror da Ditadura. Entrevistas com trinta personalidades brasileiras, entre presidentes de estados, historiadores, escritores, ex-presos e exilados, contando suas experiências pessoais e analisando o contexto político nacional e internacional que motivou a barbárie da Ditadura Militar.

Para quem vive à míngua, sobrevivendo com parcas opções no quase sempre previsível cardápio cultural de São Luís, a programação é a melhor pedida da semana. Hora de exorcizar vampiros, seus Crespúsculos e Luas Novas, a sugarem o cérebro da pobre meninada! Uma boa dose da crua realidade documental fará bem às mocinhas e rapazes que imaginam ser o mundo cor-de-rosa bebê, como seus quartos de dormir.


Amor: gênero literário?


Não deve existir sentimento que reúna uma multiplicidade maior de clichês do que aquele cuja temática é objeto incansável e atemporal na história da humanidade: o amor. Ortega y Gasset escreveu que o amor parece um gênero literário. A jornalista e escritora Rosa Montero alerta:“quanto mais frustrado, mais impossível, mais irreal, mais inventado for o relacionamento sentimental, mais possibilidade tem de servir como estímulo literário”. No terreno pop, Zeca Baleiro desanca as convicções mais dramáticas, com o versinho: “morrer de amor não é difícil, se atirar do edifício, viver de amor que é difícil...”

Difícil é viver o amor. Para o exercício amoroso, muitas vezes costuma-se decorar fórmulas complicadas para aplicar aos testes mais fáceis, enfeitar o amor de trajes de gala, quando a ocasião é um simples passeio nas tardes de feriado. Quem somos, afinal, para aprisionar em conceitozinhos arrogantes, cristalizados, encarcerar nas grades mentais, em nossos padrões repetitivos, o que se chama amor? Somos todos uns déspotas, perdendo as horas que não voltam mais. Tom Jobim deve ter sentido a mesma coisa quando cantava “Insensatez” ou “Sua Estupidez”.

Ah, pieguice tão perseguida, tão indecifrável! Amor que poderia alçar vôos mais altos ou pousar, suavemente, sem o desfecho trágico de Ícaro que, apaixonadamente equivocado, voava para a própria morte, em direção contrária à liberdade. Amor que se alimentaria de gestos simples, como aquela peixada fictícia, feita de carne de sereia, cujos cantos afogam navios e destroem destinos. Ou numa viagem a Natal, quando ainda é Carnaval, até chegar a véspera da mesa farta que não sacia nenhuma fome, com migalhas arrotadas como se fossem caviar.

Em algumas desilusões amorosas, ouvi pessoas dizerem: “você vai encontrar um outro amor, logo passa”. Não, definitivamente, amor não é um pote de ouro que a gente encontra no final do arco-íris. Depois do final, tem mais e mais: potes, vasilhas, taças, xícaras, ouro, prata, cristal, bijuterias e uma enorme quantidade inutilidades. No amor, meu gênero não é mais literário, nem plural. É singular. Emaranhados não são laços. E a cada ano que passa, sinto-me cada vez mais como o Especial de Fim de Ano da Globo. Nem Lacan, nem Dostoéivski: Roberto Carlos. Amor. Simples assim!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A nobreza do silêncio


A lua brilha porque alta vive” - repetiu os versos de Fernando Pessoa, numa tradução pessoal, translúcida. Ela costumava utilizar o silêncio como abrigo, em uma espécie de culto, durante suas práticas para acolher a si mesma. Dizia que era protegida pela nobreza do silêncio, nos momentos ensurdecedores, quando punhais afiados perfuravam seu coração. Os dedos miúdos, feito pincéis, folheavam o Alcorão, a Sutra Sagrada, jogavam I Ching, na busca frenética por um lenitivo para a angústia tão estranhamente familiar. Na Bíblia, encontrou apenas vestígios que a remetiam novamente às capsulas de silêncio que engolia para aliviar o ardor: “o mal não merece comentário em tempo algum”. Repetia baixinho.

O silêncio é uma orquestra – elaborou ao apreciar melodias mudas em perfeita harmonia a bailarem agora em seu pensamento liberto. A menina temia os ruídos. O tumulto provocava feridas em seus ouvidos frágeis e calava o fiapo de voz que nela restava.

Eles não sabiam, mas ela carrega uma nostalgia encolhida na alma, caminhando amedrontada por entre restos mortais de corpos insepultos, após a Guerra. Destroços. Cadáveres mutilados. Populações inteiras arruinadas. Uma civilização desaparecida.

O rugido dos estilhaços cedera lugar ao silêncio triunfante. Cessavam as respirações ofegantes. Apenas nublava, onde outrora chovia, torrencialmente, no céu de pano. Não havia mais asperezas na alma que emergiam à superfície. Sem mais tormentos a transfigurarem-se nos vermes que passeavam em suas circunvoluções cerebrais. Somente a plenitude, silenciosa, reinava absoluta, feito musgo em pedras.

A solidão se aconchegava à mansidão e caminhavam juntas, entrelaçadas, vitoriosas. A menina, então, mergulha na imensidão do silêncio. Surda aos gritos, abafados pela distância dos dias a atravessarem o eco do tempo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Cruelmente delicados


Conheci Rolando Toro em uma praia chamada Tabuba, no litoral cearense, banhada pela música do mar e dos pássaros e protegida por uma lua crescente a iluminar um grupo de pessoas que adotava um estilo de vida repleto de amorosidade. Toro, o criador da Biodança, um antropólogo chileno, psicólogo, poeta, professor de Antropologia Médica da Escola de Medicina da Universidade do Chile e amante da existência, falava da sacralidade da Vida e de uma espécie de religiosidade existente nos encontros. Na época, aos 81 anos, Rolando Toro dizia, com o castelhano sedutor que fluía de suas palavras, coisas como: “O abraço é uma celebração divina” ou “um olhar amoroso provoca uma explosão no sistema endócrino”.

Ainda lembro do entusiasmo que pulava dos meus olhos, quando conheci a proposta de viver abundantemente, apresentada a mim por duas bruxas em minha vida, Carime Jadão e Viviane de Araújo, ambas especialistas em Educação Biocêntrica – proposta educativa que coloca a vida em um lugar central. Todas as ocasiões em que me sinto triturada, moída pela máquina impiedosa do cotidiano ou pressinto o amargar da decepção na boca, recorro a tais ensinamentos. Cada dia me convenço de que o tema, aparentemente meio woodstockiano, é urgente e necessário à implantação de um modo de desenvolvimento justo, sustentável e (por que não?) afetuoso, em uma época de exaustão do modelo social vigente.

As perversidades das quais somos vítimas, vez em quando, fazem pouco caso ou ridicularizam os encontros, numa concepção biocêntrica de comunhão generosa e como um meio supremo de perceber o outro. Martin Buber, Leonardo Boff, Pierre Weil e outros tantos dialogam com a proposta. Do Saber Cuidar, obra relevante de Boff, numa contribuição valiosa à sustentabilidade do planeta e das relações, às lições do mestre chileno.

Quantas tragédias não poderiam ter sido evitadas com a inserção  significativa e determinante do imprescindível ingrediente amoroso na educação de tantos que, num golpe violento, ceifam suas próprias possibilidades de um destino melhor? Longe de parecer devaneio hedonista, a Biodança é um apelo mundial a uma concepção coletiva, em uma dança dos encontros, de harmonia e afetividade. Nestes tempos em que grande parcela da humanidade parece, irremediavelmente, voltada para seu próprio umbigo, lambendo suas chagas, há de se extirpar o egoísmo em série e a crueldade individualista, em nome da salvação da nossa espécie. Nem que, para isto, precisemos repetir Afonso Romanno de Sant’anna: “Sejamos delicados, cruelmente delicados!”










Cinema e Psicanálise

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

21 DE NOVEMBRO: A CELEBRAÇÃO


A frase emprestada não tem prazo de validade para quem se ufana de ter sorte na vida. Adiciona-se a ela o devido reparo gramatical  e a ventura de nascer filha de dois professores da Língua Mãe!

21 de novembro: evoé, Baco!


"Gracias a la Vida que me ha dado tanto".
(Mercedes Sosa)


terça-feira, 16 de novembro de 2010

Cinema e Direitos Humanos


Confira a Programação no Cine Praia Grande





29/11 – SEGUNDA-FEIRA


19h30 - Sessão de Abertura


VIDAS DESLOCADAS


João Marcelo Gomes (Brasil, 13 min, 2009, doc)


PERDÃO, MISTER FIEL


Jorge Oliveira (Brasil, 95 min, 2009, doc)


30/11 – TERÇA-FEIRA


13h30 - A VERDADE SOTERRADA


Miguel Vassy (Uruguai/ Brasil, 56 min, 2009, doc)


ROSITA NÃO SE DESLOCA


Alessandro Acito, Leonardo Valderrama (Colômbia/ Itália, 52 min, 2009, doc)

15h30 - ENSAIO DE CINEMA


Allan Ribeiro (Brasil, 15 min, 2009, fic)


Renate Costa (Paraguai/ Espanha, 91 min, 2010, doc)


17h30 - A BATALHA DO CHILE IIO GOLPE DE ESTADO


Patricio Guzmán (Chile/ Cuba/ Venezuela/ França, 90 min, 1975, doc)

19h30 - ABUTRES


Pablo Trapero (Argentina/ Chile/ França/Coréia do Sul, 107 min, 2010, fic)


03/12 – SEXTA-FEIRA


13h30 - DOIS MUNDOS

Thereza Jessouroun (Brasil, 15 min, 2009, doc)


AMÉRICA TEM ALMA


Carlos Azpurua (Bolívia/ Venezuela, 70 min, 2009, doc)

15h30 - VLADO, 30 ANOS DEPOIS


João Batista de Andrade (Brasil, 85 min, 2005, doc)


17h30 - A HISTÓRIA OFICIAL


Luis Puenzo (Argentina, 114 min, 1985, fic)


19h30 - XXY


Lúcia Puenzo (Argentina/ França/Espanha, 86 min, 2006, fic)


01/12 – QUARTA-FEIRA


13h30 - Audiodescrição


AVÓS


Michael Wahrmann (Brasil, 12 min, 2009, fic)


ALOHA


Paula Luana Maia, Nildo Ferreira (Brasil, 15 min, 2010, doc)


CARRETO


Marília Hughes, Claudio Marques (Brasil, 12 min, 2009, fic)


EU NÃO QUERO VOLTAR SOZINHO


Daniel Ribeiro (Brasil, 17 min, 2010, fic)


* Sessão com audiodescrição para público com deficiência visual.


15h30 - HÉRCULES 56


Silvio Da-Rin (Brasil, 94 min, 2006, doc)




17h30 - DIAS DE GREVE


Adirley Queirós (Brasil, 24 min, 2009, doc)


PARAÍSO


Héctor Gálvez (Peru/ Alemanha/Espanha, 91 min, 2009, fic)


19h30 - CARNAVAL DOS DEUSES


Tata Amaral (Brasil, 9 min, 2010, fic)


MEU COMPANHEIRO


Juan Darío Almagro (Argentina, 25 min, 2010, doc)


LEITE E FERRO


Claudia Priscilla (Brasil, 72 min, 2010, doc)




04/12 – SÁBADO


13h30 - MÃOS DE OUTUBRO


Vitor Souza Lima (Brasil, 20 min, 2009, doc)


JURUNA, O ESPÍRITO DA FLORESTA


Armando Lacerda (Brasil, 86 min, 2009, doc)


15h30 - HALO


Martín Klein (Uruguai, 4 min, 2009, fic)


ANDRÉS NÃO QUER DORMIR A SESTA


Daniel Bustamante (Argentina, 108 min, 2009, fic)


17h30 - MARIBEL


Yerko Ravlic (Chile, 18 min, 2009, fic)


O QUARTO DE LEO


Enrique Buchichio (Uruguai/ Argentina, 95 min, 2009, fic)


19h30 - O FILHO DA NOIVA

Juan José Campanella (Argentina/ Espanha, 124 min, 2001, fic)


02/12 – QUINTA-FEIRA


13h30 - Audiodescrição


PRA FRENTE BRASIL



Roberto Farias (Brasil, 105 min, 1982, fic)


* Sessão com audiodescrição para público com deficiência visual.




15h30 - A CASA DOS MORTOS


Debora Diniz (Brasil, 24 min, 2009, doc)


CLAUDIA


Marcel Gonnet Wainmayer (Argentina, 76 min, 2010, doc)




17h30 - ALOHA


Paula Luana Maia, Nildo Ferreira (Brasil, 15 min, 2010, doc)


AVÓS


Michael Wahrmann


(Brasil, 12 min, 2009, fic)


CINEMA DE GUERRILHA


Evaldo Mocarzel


(Brasil, 72 min, 2010, doc)




19h30 - KAMCHATKA


Marcelo Piñeyro (Argentina/ Espanha/Itália, 103 min, 2002, fic)




05/12 – DOMINGO


13h30 - GROELÂNDIA


Rafael Figueiredo (Brasil, 17 min, 2009, fic)


MUNDO ALAS


León Gieco, Fernando Molnar, Sebastián Schindel (Argentina, 89 min, 2009, doc)


Classificação indicativa: 12 anos


15h30 - CARRETO


Marília Hughes, Claudio Marques (Brasil, 12 min, 2009, fic)


BAILÃO


Marcelo Caetano (Brasil, 17 min, 2009, doc)


DEFENSA 1464


David Rubio (Equador/ Argentina, 68 min, 2010, doc)


17h30 - O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS


Cao Hamburger (Brasil, 110 min, 2006, fic)


19h30 - EU NÃO QUERO VOLTAR SOZINHO


Daniel Ribeiro (Brasil, 17 min, 2010, fic)


IMAGEM FINAL


Andrés Habegger (Argentina, 94 min, 2008, doc)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

FEIJÃO COM INFORMAÇÃO




 



domingo, 7 de novembro de 2010

Tempo de temperos ou de tempestades?


O enigma do tempo é um dos meus fascínios. A pressa pode pisotear flores. Mas a lentidão é represa na torrente de águas afoitas, abundantes, temerárias que ousam afrontar o próprio tempo. O tempo, essa bizarra dimensão misteriosa, a quem atribuem ser o velho Senhor da Razão, vez por outra, ensandecido, alucina os dias e as horas. Dele, diz ser Rei, a bela canção. E eu, rainha, a me contentar com migalhas de segundos que sobram de tantas eternidades já sonhadas, recito as palavras do Eclesiastes, um dos meus poemas bíblicos preferidos, depois de Salomão:

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;”

Mas qual o verbo do princípio conjugará pretéritos imperfeitos? Ou redigirá, como imperativo da alegria, o futuro do presente? Em qual tempo acontecerá o milagre da tranformação do Malbec em Água Perrier? A conversão do mármore em mel? Tempo de temperos e semeaduras? Ou, novamente, tempo de tempestades, que varrem a terra para surgirem novos húmos? Repilo o tempo de aconte(cimentos) petrificados. Quero o aconte-SER. Nós e os episódios somos frutas das quais a demora no tempo de colheita apodrece e o instante mágico da hora exata proporciona o sorver. A rotina asfixia os minutos. Mas o atraso e a demora também destroem o agora. A ausência é a indolência do tempo. Começo, meio e fim? Sem ponteiros no meu relógio, destruo as horas, mas acabo também com o fim.  “,” (vírgula, como faria Clarice)





sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Contos e pontos sem “nós”



“Eu apenas fui pontual” – disse ele. Ela revirou os olhinhos aflitos, assustados, porém ardentes, e impregnou o ar de uma expressão singular, indizível. Pontuação? Sinalizar as frases, os períodos, de vírgulas, exclamações, reticências, interrogações. Ou, de forma ditatorial, impor um ponto final em um conto que anunciava ser como As Mil e Uma Noites?

Ele sofria da aversão de Rancé, em que seu Eu não saberia suportar a teatralização de uma palavra sem se perder. Ela, da bulimia da ambigüidade: sedução e destruição, nutrição e fome. Verdades dançarinas.

Dentro dele, sussurrava um poema infantil, tosco, remanescente de outrora: Se eu pudesse atrasar o relógio do tempo, te amaria com pontualidade britânica. Pontual. Um relógio condenado à morte do tempo, em caso de atraso ou adiantamento. E recolhia as Palavras ao Vento, recitando Adriana Falcão: “Talvez: resposta pior do que um Não”.

Acontece que algumas palavras não foram espalhadas pela tempestade. A exatidão dos números se enroscou à sinuosidade da semântica romântica. A retórica foi calada pelo silêncio. Os cheiros, calores e sabores não respeitavam horários e nem sabiam ler a palavra “talvez”. E ninguém sabia mais, na história, quem era o Sultão ou a Sherazade. Eles dormiram e sonharam novamente o mesmo sonho. Ao som da crônica de Rubem Alves:

“As mil e uma noites são a estória de cada um. Em cada um mora um sultão. Em cada um mora uma Xerazade. Aqueles que se dedicam à sutil e deliciosa arte de fazer amor com a boca e o ouvido (estes órgãos sexuais que nunca vi mencionados nos tratados de educação sexual…) podem ter a esperança de que as madrugadas não terminarão com o vento que apaga a vela, mas com o sopro que a faz reacender-se”.









segunda-feira, 25 de outubro de 2010

MARCHA DA PERIFERIA

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Maranhão em Estado de Alerta

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Horário Eleitoral: Sessão da Tarde ou Vale a Pena Ver de Novo?



No clássico Mitologias, o francês Roland Barthes fornece as chaves para os que se propõem a uma compreensão mais apurada dos rótulos, embalagens e conteúdos dos discursos eleitorais na propaganda eleitoral no rádio e na TV.

O capítulo com título O Mito é uma Fala Despolitizada, revela: “a função do mito é evacuar o real”. Nenhuma constatação inédita a de que, a maioria dos marqueteiros, direciona suas estratégias no sentido de mitificar candidatos e políticos. 

O caldeirão cultural brasileiro - com cultos a santos padroeiros, festas religiosas e outras formas de adoração - é ambiente propício para a frequente necessidade popular por supostos "salvadores da Pátria" na política nacional. O filme Lula, o filho do Brasil, e o controvertido "fenômeno de popularidade" do atual presidente da Nação não fogem à regra do argumento aqui exposto. Adiciona-se a isso o consenso, quase generalizado, de que a mídia é um lugar de produção de imaginários.

Barthes, no entanto, anuncia que “estatisticamente, o mito se localiza na direita”. Mas é notável a adoção de sentenças e construções discursivas despolitizadas, tanto em candidatos da direita, quanto de esquerda, nas eleições para o Governo do Maranhão. Os candidatos Flávio Dino (PCdoB) e Roseana Sarney (PMDB), adversários ferrenhos na disputa pela cadeira no Palácio dos Leões, rugiram no mesmo timbre de “fala despolitizada”, alinhados no arremedo de expressões como: “Chega de Briga”, “Quem perde é o povo”.

O truque retórico, retirado de pesquisas qualitativas, é reducionista e reforça a despolitização generalizada da população, empurrando para debaixo do tapete, questões mais complexas sobre a atual cena política maranhense. O “Chega de Briga” equivale ao “Político é tudo igual”, expressões que revelam a ausência de educação política, indisposição nos eleitores para análise do comportamento de cada candidato e avaliação dos representantes que já exercem mandatos.
Para Barthes, “o mito faz uma economia, absorve a complexidade dos atos humanos (...) e organiza um mundo sem contradições, porque sem profundeza”.

Mas é a doutora Vera Chaia, livre docente em Ciências Políticas (PUC/SP), em entrevista sobre a influência da mídia e dos poderes econômicos nas eleições, quem levanta o véu da questão. No jornal Le Monde Diplomatique Brasil, ela sublinha: “Existem certas estratégias de campanha que você deve obedecer. Se você é oposição, você tem que ser oposição. Se você é situação, você tem que ser situação. Não dá para contemporizar porque o eleitor percebe”.

Agora, na reta final para o dia três de outubro, resta saber o que o eleitor preferiu assistir no horário eleitoral na TV e no rádio. Sessão da Tarde ou Vale a Pena ver de Novo?


domingo, 19 de setembro de 2010

Feridas da Alma


Não tenho por costume cultivar feridas na alma que, vez por outra e inevitavelmente, desabrocham durante o trajeto da existência. De modo terapêutico, coloco Piazolla e afins para tocar, inebriando a sala de uma embriaguez particular, até exaurir o debulhar de lágrimas inúteis. Ou adoto ainda períodos de hibernação necessária, ordenando as gavetas onde devem ser retirados os sentimentos que não mais servem para uso, tentando vestir alguns com pontuação mais adequada e examinando, com cuidado, o que ainda me cabe ou não. Certas vezes, só restam farrapos, é verdade.



Os exercícios de auto-conhecimento, iniciados há alguns anos com auxílio da paulista Julianne Prietto Peres Mercantes, têm surtido algum resultado satisfatório. Gosto de aconchegar-me a mim mesma, de ouvir a voz dos meus pensamentos ao manter diálogos proveitosos comigo, de ter a tranqüila sensação da transitoriedade da experiência no corpo de carne, como um vôo panorâmico a proporcionar uma visão mais ampla das coisas que, de vistas de cima, parecem tão pequenas. É algo semelhante à frase da mexicana Frida Khala: “pés para que me servem, se tenho asas para voar?”



Além disso, lá fora há o espetáculo da vida generosa, jorrando abundantemente, como ensina o Mito da Caverna de Platão, do qual grande parcela da humanidade, enclausurada, insiste em tornar-se refém. Prefiro adotar como mantra pessoal, a frase de bolso de Tom Jobim, das minhas preferidas: “Sou um aprendiz de ternuras”. As feridas sangram, é fato, alguns anestésicos têm efeito de curta duração, as amarguras haverão de deixar um ranço na boca por algum tempo. Mas haverá sempre uma lua crescente, surgindo do telhado de algum casarão no Centro Histórico, os ventos de agosto e setembro a eriçarem o mar do Maranhão, com suas ondas que vêm e vão, no compasso dos acontecimentos. O imprevisível há de, eventualmente, tornar-se visível em algum canto escuro. A delicadeza de alguns há de triunfar sobre a indiferença e o medo, os dois maiores inimigos do amor, segundo Leonardo Boff, mestre e porta-voz da sacralidade da vida. A etimologia faz sentido. A palavra afeto orgina-se do latim “affetare” e significa ir atrás.



 




Artigo de Flávio Reis sobre o jornal VIAS DE FATO




VIAS DE FATO: UM ANO MEMORÁVEL*
                                           Flávio Reis** 

O aparecimento do jornal Vias de Fato em outubro do ano passado foi uma grata surpresa que tomou de assalto nosso ridículo meio jornalístico. Na primeira edição, a chamada da entrevista com o juiz Jorge Moreno estampava logo uma daquelas afirmações certeiras que seria uma marca do jornal: “O Poder Judiciário Não Tem Legitimidade”. A entrevista era um retrato excelente do controle oligárquico inescrupuloso do poder judiciário no Maranhão, da conivência com todo tipo de corrupção, distanciado da sociedade e sempre veloz para se voltar contra os movimentos sociais.


Mas outros textos não ficavam atrás, uma ótima reflexão de Wagner Cabral sobre a “cultura da libertação”, contraponto oposicionista de um jogo político que se desenrola nos marcos da estrutura oligárquica, Eduardo Júlio escrevendo sobre os primeiros tempos do Cine Praia Grande, Ricarte Almeida falando da experiência “Clube do Choro Recebe”. Destacava-se ainda uma matéria forte sobre violência no campo e uma sátira irada de Cesar Teixeira, intitulada O Banquete Execrável, onde os convivas “devoram com avidez as costelas indigentes da ética e do decoro” e “o mais reles papel cabe ao presidente Lula, espécie de czar naturalista especializado em mimar camaleões de bigode”. Na verdade um texto livre que tornava o conjunto mais surpreendente, antecipando de forma precisa como “durante o banquete que atravessará as eleições de 2010 tudo será permitido”.



Nos números seguintes logo se verificou que a estrutura da publicação já surgiu bastante nítida. Temas: direitos humanos, conflitos agrários, defesa do meio ambiente, movimentos sociais, cultura popular, luta contra a corrupção e o poder oligárquico. Destaques: uma seção de entrevista, realizada sempre com muita competência; artigos de colaboradores variados, em geral pesquisadores e pessoas ligadas às lutas sociais; uma matéria realizada pelos editores, encontro direto com nossa realidade de miséria e desmandos.



Em onze edições, pequenas amostras da crise social e política em que se encontra mergulhado o Maranhão. Lucidez e contundência nas entrevistas de Palmério Dória, afirmando que “a desmoralização da nossa democracia não tem limites”; de Dom Xavier Gilles, categórico sobre o que o nosso poder judiciário finge desconhecer, “latifundiário é ladrão”; de Manoel da Conceição, um histórico olhando com decepção o rumo tomado por Lula, em acordo com as oligarquias; de João Pedro Stédile, “o Maranhão tem a maior concentração fundiária do mundo”; de Vila Nova, dando o nome certo de máfia para as redes de poder, explicando tudo numa verdadeira aula; de Wellington Resende, auditor da CGU, escancarando nosso segredo de polichinelo, “elite maranhense vive da corrupção no setor público”; da constatação de Maristela Andrade, “a elite do Maranhão não gosta de seu povo, eles querem a cultura apenas para servir a seus interesses”; ou da velha verdade dita com força pelo padre Victor Asselin, “discutir a questão da terra é fundamental para o futuro do Maranhão”.



Os artigos trataram de temas variados, mas sempre urgentes, como o colapso do abastecimento de água em São Luís, o impacto ambiental dos projetos anunciados pelo governo federal, o trabalho escravo nas fazendas, os escândalos do judiciário maranhense, o cerco do capital sobre o direito das quebradeiras de coco babaçu à terra livre, o plebiscito pelo limite de propriedade da terra, entre outros.



As matérias de responsabilidade da editoria, por sua vez, foram ao encontro do “Maranhão profundo”, aquele invisível, mantido cuidadosamente distante pela imprensa oligárquica. Aí temos, em cores vivas, os quadros da nossa barbárie cotidiana, a violência dos madeireiros na região de Buriticupú, em conluio com as autoridades locais e os responsáveis pela fiscalização, a luta dos Awa-Guajá pela delimitação de suas terras, num conflito que já comportou de tudo, desmatamento, extração ilegal de madeira, construção de carvoarias e estradas clandestinas, milícias armadas e o progressivo extermínio de um povo nômade, cuja existência chegou mesmo a ser negada pelo prefeito de Zé Doca, ou as arbitrariedades ocorridas depois dos acontecimentos de 1º de janeiro de 2009 em Santa Luzia do Tide, quando uma multidão estava acampada para protestar contra a diplomação do candidato derrotado e um incêndio mal explicado tomou os prédios da Prefeitura, Câmara e Fórum. A repercussão foi grande, nacional, mas nada soubemos sobre os desdobramentos posteriores, exemplo típico do que ainda continua sendo a lei no Maranhão, fonte de arbítrio, perseguição e vingança.



Por outro lado, temos as cenas do dia 15 de abril em algumas cidades do interior, data limite para os gestores públicos disponibilizarem a prestação de contas para apreciação da sociedade. Os relatos sobre as mobilizações em Lago do Junco, Cantanhede, Codó, Santa Luzia do Tide e Miranda do Norte, com a população exigindo saber como foi gasto o dinheiro, apontam para algo realmente interessante, que, se estimulado, será uma fonte de pressão importante na luta contra a corrupção. Escândalos com o dinheiro público não faltam e o jornal lembra o velho sorvedouro do “Projeto da EMSA”, com vistas à irrigação no Baixo Parnaíba, criado ainda no período de Sarney na presidência e que vem atravessando os governos como saco sem fundo, no conhecido estilo para e recomeça, estando agora previsto um investimento de mais de 180 milhões através do PAC.



A crueza e a qualidade que aparecem nas poucas páginas do Vias de Fato são evidentes e o contraste com o tipo de jornalismo mais freqüente por estas bandas, total. Perdido entre o noticiário distorcido que é a tônica do Sistema Mirante e a submissão do antigo Jornal Pequeno às conveniências dos grupos de oposição oligárquica, o que já era ruim parece ter ficado pior. Uma autêntica briga de comadres, movida a muito disse-me-disse, temperada por um colunismo medíocre, sem exceções, incapaz de ir além do chavão e da propaganda política.



São jornais que se lê em poucos minutos e ainda fica a sensação de perda de tempo. Um jornalismo que se alimenta de si próprio, de suas futricas e vaidades, centrado em São Luís, ou melhor, em alguns poucos bairros da cidade (agora também em alguns blogs...), distanciado da sociedade e no fundo parecendo cumprir a função de esconder o Maranhão dos maranhenses. Ataques e acusações, mas quase nunca crítica política digna desse nome, aliada à exaltação repetitiva da natureza, da cultura popular e da mitificação histórica, eis a fórmula comum aos nossos jornais. Podem até falar uma coisa ou outra dos problemas da cidade, comportar alguma denúncia, reclamar da insegurança, mas séries de reportagens, exploração mais circunstanciada de temas, cruzando informação e reflexão, o link necessário entre pesquisa e jornalismo, capaz de motivar o debate público, nada disso existe. O resto são as doses diárias de uma violência exposta sem nenhuma discussão, carne pendurada em açougue para consumo de massa.



Vivemos num estado marcado pela carapaça mítica engendrada ainda no século XIX em torno de sua capital, cujo signo maior era o sempre repetido bordão da Atenas Brasileira, sem esquecer a fundação francesa de araque, inventada posteriormente, e que agora ganhou novos contornos com o título a ela concedido de patrimônio da humanidade, aliado à imagem recente dos Lençóis como maravilha da natureza. Por trás disso, o Maranhão é na realidade uma espécie de eterno campeão de estatísticas negativas. Terra de violência e miséria, permeada por desmandos de uma estrutura de poder que se mantém há décadas, é a imagem acabada do atraso no mosaico brasileiro. Isto é, a imagem que os outros fazem de nós, porque a visão que continuamos a cultivar permanece embaralhada por um sentimento de grandeza, na verdade mais ludovicense do que propriamente maranhense, mas de qualquer forma largamente predominante, seja no jornalismo, na publicidade, nas academias ou universidades. É um sentimento de exaltação incutido pelas nossas elites, avesso a qualquer crítica.



O Vias de Fato não aceitou esse jogo, colocando-se numa linha crítica visceral, sem a canga costumeira dos grupos políticos, vale dizer, das máfias, apostando numa articulação mais ampla e descentralizada, envolvendo movimentos sociais e criando um espaço de disseminação de informações, aberto a contribuições de viés acadêmico, mas com teor combativo, como exige o momento e ficou bem explícito desde o primeiro editorial. O que apareceu foi um Maranhão diferente do que é vendido cotidianamente nas páginas dos jornais e nos noticiários. Coerente com as idéias professadas de um jornalismo comprometido com as causas populares, encampou decididamente a movimentação do Tribunal Popular do Judiciário, experiência única de denúncia de juízes e promotores a partir de depoimentos colhidos livremente, participa da Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra e esteve na caravana que foi acompanhar o julgamento do último e principal acusado do crime da missionária Doroty Stang.



Na recente campanha eleitoral afirmou que não tomaria partido entre os candidatos da oposição, mantendo firme a posição de que a luta contra a dominação oligárquica passa necessariamente pela luta contra o sarneysismo. Claro e direto, sem deixar de ser plural. Homenagens também ocorreram, sempre em textos de qualidade, sobre João do Vale, Maria Aragão, Dona Lili, Escrete, e, no último número, Magno Cruz, uma pilastra fundamental das lutas sociais contra a discriminação racial e a defesa dos direitos humanos que ruiu numa dessas surpresas silenciosas da vida, evocado por Cesar Teixeira em página carregada de emoção.



Recentemente o jornal passou a contar também com página na internet, contendo arquivos dos artigos publicados, algumas reportagens e postagem de notícias, comentários, denúncias, além de links para os sites do MST, CPT, Fórum Carajás, Tribunal do Judiciário, Sindicato dos Bancários. Na situação que hoje se desenha, espaços de crítica como este terão um papel cada vez mais importante.



Lula manteve a tradição e comanda a locomotiva da oligarquia em vários estados, mas preparando-se para usufruir de uma herança política perversa, construída com a desmobilização e a cooptação de movimentos sociais e o desmantelamento do frágil sistema partidário, sem falar na destruição do próprio PT enquanto força democrática, cada vez mais submetido às conveniências do “lulismo” (a sua mitificação como novo pai dos pobres), encapsulado em redes obscuras, pronto a se unir a antigos beneficiários do atraso e apresentar vários “honoráveis bandidos” na televisão como verdadeiros baluartes do espírito público e promotores do desenvolvimento em suas regiões, reproduzindo cinicamente a velha aliança com a fisiologia, que continua a ser colocada como a “única forma possível de governar o Brasil”, exercendo, enfim, o realismo dos aproveitadores e saltando sobre o Estado com a gula dos que tem fome de poder e mando. Neste contexto, República pode virar apenas uma palavra, ainda mais vazia do que já é. Uma triste reafirmação da nossa longa tradição patrimonialista, na qual sobretudo o poder político deve ser utilizado como espólio do vencedor.



Resta uma saudação calorosa aos editores Cesar Teixeira e Emílio Azevedo, que vem levando esta experiência urgente de informação engajada com extrema dificuldade, mas, acima de tudo, muita garra e competência. Além da expectativa positiva de que o jornal consiga se afirmar como espaço de discussão diversificada, capaz de exercer de maneira criativa a função dinamizadora da informação na luta contra a espoliação e o arbítrio.







* Artigo publicado na 12º edição do jornal Vias de Fato.



**Flávio Reis é professor da UFMA. Publicou o livro Grupos Políticos e Estrutura Oligárquica no Maranhão.