segunda-feira, 30 de maio de 2011

Filha das Águas


Regida pelo signo da transformação, aprecio o revirar de páginas, a mutação dos sentidos, as mudanças de rota, a arrancada da última folhinha do calendário, os rituais de passagens, as letras que preenchem o espaço branco no monitor dos dias, a música que irrompe o silêncio. O por do sol, ao som de Dindi, de Tom Jobim, desmanchando convicções de mármore. A sensação de um relógio batendo no peito, metáfora do coração vital, incessante ritmo da Vida que impulsiona e apresenta cada minuto com vestes de espetáculo.
Aprecio o cio que “vence o cansaço”. A voracidade do inevitável. As águas que jorram, indomáveis, a força de dentro da Terra. A fluidez dos dias correndo como asas nos pés do deus Hermes. O ciclo das marés sem interrupção. As cores que gritam no quadro vermelho. Plantas bailando. Vento soprando segredos. Sol protetor, pai de todos nós. Palavras com sabor. Atritos que geram fogo. Incêndios no olhar. O sangue irrigando as veias. Beijos florescendo desertos. Sou mutante, gosto do adiante. Desejo as vontades. Percorro as trilhas, adoto rotas, sigo caminhos. Ouço canções nas vozes alheias. Apago a escuridão. Sou água: mansa e revolta. Gélida e morna. Na correnteza das certezas, mergulho em mim.  




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