A morte talvez seja uma das mais bem elaboradas estratégias da divindade para mostrar a nossa pequenez. Diante dela, somos açoitados pelas nossas ilusões e pela maior de todas elas, a falácia da imortalidade na carne. Diante dessa senhora, que chega se apropriando daquele refrão de música “somos todos iguais nessa noite”, somos dilaceramos pela saudade, somente aplacada com a força da convicção de um encontro na outra dimensão da existência.
A impossibilidade de abraçar alguém que já não está mais aqui chega com a crueza da verdade do quanto devemos amar cada vez mais, do quanto as mesquinharias de nossos entulhos emocionais precisam ser removidas, do quanto esta viagem é, inexoravelmente, transitória. A mais cristalina de todas as certezas, em meio à nossa trajetória de encruzilhadas, atalhos, desvios e dúvidas de toda espécie, é a de que estamos todos nos despedindo a todo instante. Os amores não consumados, as palavras que nunca foram ditas, os sonhos que apagamos feito fumaça, os projetos que engavetamos e tudo o que deixamos de fazer, em razão de nossas fraquezas, egoísmos, medos e covardias surgem, vivos, em presença da morte, essa grande professora.
Deixamo-nos arrastar pela correnteza dos dias desperdiçados, entorpecidos pela arrogância de nossas falsas verdades, embriagados da ilusória crença na eternidade dos anos que achamos ainda ter pela frente. E, entre os patrimônios que pensamos ter, o presente é um dos poucos que nos resta.
Deixamo-nos arrastar pela correnteza dos dias desperdiçados, entorpecidos pela arrogância de nossas falsas verdades, embriagados da ilusória crença na eternidade dos anos que achamos ainda ter pela frente. E, entre os patrimônios que pensamos ter, o presente é um dos poucos que nos resta.
Este texto se esvai, agora, junto com minhas lágrimas pela ausência física daquela que foi uma mãe, irmã, amiga, um desses amores raros que a Vida nos traz, em meio à dança dos encontros, nunca encerrados pelo final de uma música triste. Conheci Maria Cristina Asêvedo no auge da ignorância dos meus 22 aninhos. Ariana como mamãe, ela me ensinou coisas preciosas que guardo até hoje. Era umas das maiores incentivadoras do meu ainda apaixonado exercício jornalístico. Dizia que conhecia meu texto pelo estilo, ainda que eu não assinasse a matéria. Sabia muito, muito de mim. Dona de um sorriso largo, iluminado, Cris era portadora de uma generosidade incurável. Amou muito. Talvez além do que o merecimento das pessoas. Nunca vou esquecer uma cartinha dela endereçada a um amor complicado, difícil, lavrada por uma impecável retórica jurídica: “o que dizem que é pouco amor por mim, eu prefiro achar que é muito amor por ti”.
Minha querida Pim, os banhos de mar que tomamos juntas, nos dias 31 de dezembro, e que tu dizias que sempre te traziam sorte, estarão sempre em minha lembrança. A música Vento no Litoral volta agora, como a maré cheia que tanto te lembrava de mim:
“...E quando vejo o mar, existe algo que diz que a vida continua e se entregar é uma bobagem... já que você não está aqui, o que posso fazer
é cuidar de mim”.
é cuidar de mim”.
Uma das últimas conversas que tivemos, ainda no hospital, Cris me falou sobre a efemeridade de certas situações: “tudo passa”. Somente ficam eternos os sentimentos que nos fazem transcender a nossa própria pequenez. Obrigada por tudo, minha Pim.
Grande homenagem!!!E merecida!!!Não direi descanse em paz, mas sim, a vida começa agora,Cris!!!Bjs
ResponderExcluirHomenagem justíssima a nossa Cris. Parabéns pelo excelente texto.
ResponderExcluirFlavinha, não conheci essa moça em que vc faz uma homenagem, mas confesso que me emocionei bastante ao ler esta mensagem.
ResponderExcluirVc é uma jornalista encantadora, tem o dom da palavra, ainda mais no que tange a esse assunto, vc foi no amago!! bjs
Flávia, soube nosábado, fiquei péssima e tô aqui com um nó na garganta lendo esse texto e lembrando o quanto ela era tudo isso e muito mais... aquele sorriso, aquela maneira compreensiva de ser... Caramba, a saudade dói! Gisa Franco
ResponderExcluirMinhas queridas, só o que nos resta de precioso nesta vida são os laços de afeto que nos mantém ligados pela eternidade afora. Obrigada por compartilhar dessa emoção e do carinho pela nossa Cris. Abraço forte, Gisa, Marilse e Kali!
ResponderExcluirFlavinha
Vinha, tou com os olhos marejados.Uma mão gigante aperta meu coraçãozinho. Ei, eu estava lá com vc e nossa Cris Asevedo com s de saber e sabor...Escuta: num quero morrer antes de ti não .Por que se não, como é q eu vou ler teu texto sobre mim?!Brincadeirinha, amorrr. Vc escreve muito bem.E Cris, certamente deve de tá rindo de tanta solidão fundada na nossa incapacidade de nos acostumarmos com a ausência dos gestos dela. Sobretudo o sorriso.Sei lá, os bons morrem antes. Que Deus a ilumine e nos dê força e coragem . Paz pra família de Cris. Com amor, Dadá
ResponderExcluirLindas palavras à uma pessoa linda por dentro e por fora, que o pouco contato que tivemos deu pra perceber o quanto foi merecedora dessa homenagem feita por vc. Foi uma guerreira até o final com esse sorriso inesquecivél.Ela se foi mas deixou belos frutos! Pena! Porém foi feliz e fez muitas pessoas felizes...é o que importa!Que Deus a tenha em um bom lugar!
ResponderExcluir25 de maio de 2011 21:50
Extremamente cuidadosa com as palavras. Lindo.
ResponderExcluirMamãe amaria.
Grande beijo.
Ela é digna de uma homenagem maior do que esta tão singela, confeccionada por aguda saudade. Que Mikaelle (que vi nascer!), possa ser esse bom fruto deixado por ela, herdeira de seus ensinamentos.
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