Reli, por acaso, um texto antigo do escritor João Silvério Trevisan em que ele menciona possuir no armário um envelope de nome cemitério de amores, com declarações, cartas de amor, fotos e lembranças afins de relacionamentos passados. O texto me devolveu à lembrança uma carta que guardei na carteira, durante anos, escrita por um dos meus primeiros amores (assim mesmo: no plural, em uma construção que remete à idéia nupcial, o ineditismo próprio da natureza amorosa a provocar sempre a sensação de primeira vez). A letrinha escrita à mão dizia, em impecável retórica: “o que dizem que é pouco amor por mim eu prefiro achar que é muito amor por ti”. Dois anos depois, numa heróica tentativa de transformar o que havíamos vivido, escrevi um poeminha franzino, com jeito adolescente, que celebrava o fim daquele romance, assim: “...do meu lixo interior ao papel da poesia.” Quase 20 anos depois, ainda guardo esse amor como um troféu, transmutado pelos anos com ingredientes que ganharam novo sabor, sob o fogo brando da ternura, do respeito, da sinceridade e da admiração mútuas. A ele dedico esse alinhavo de texto e confissão. O novo formato de amizade e amor lembra a canção de Caetano: “...Assim como o amor está para a amizade e quem há de negar que esta lhe é superior?...”
Mencionar cartas de amor, heróicas tentativas de tornar belos momentos que tropeçaram em situações feias soa até anacrônico numa época em que namorar só faz sentido se for para exibir como uma roupa nova de última moda, comprada nos shopping centers das boates e bares, com suas ofertas variadas, algumas até em promoção. Não é à toa que proliferam publicações do tipo Caras (de pau?), Contigo (comigo não, violão!), Quem (como assim?!?) cujas linhas editoriais privilegiam a vulgarização da intimidade alheia. Embora diante de tais comportamentos moderninhos, por vezes eu me sinta como uma freira em trajes íntimos, em plena praia de Ipanema, prefiro frequentemente minhas festinhas na abadia e as alegrias do meu mosteiro.
Apesar do título da postagem, amores não se perdem e nem são enterrados em cemitérios, eles permanecem. Ego, vaidade e interesses mesquinhos travestidos de paixões equivocadas, sim, merecem um túmulo. Bom mesmo é depois do enterro, olhar para trás e concordar com Aldous Huxley: “Experiência não é o que acontece com você, mas o que você fez com o que lhe aconteceu”.
Mencionar cartas de amor, heróicas tentativas de tornar belos momentos que tropeçaram em situações feias soa até anacrônico numa época em que namorar só faz sentido se for para exibir como uma roupa nova de última moda, comprada nos shopping centers das boates e bares, com suas ofertas variadas, algumas até em promoção. Não é à toa que proliferam publicações do tipo Caras (de pau?), Contigo (comigo não, violão!), Quem (como assim?!?) cujas linhas editoriais privilegiam a vulgarização da intimidade alheia. Embora diante de tais comportamentos moderninhos, por vezes eu me sinta como uma freira em trajes íntimos, em plena praia de Ipanema, prefiro frequentemente minhas festinhas na abadia e as alegrias do meu mosteiro.
Apesar do título da postagem, amores não se perdem e nem são enterrados em cemitérios, eles permanecem. Ego, vaidade e interesses mesquinhos travestidos de paixões equivocadas, sim, merecem um túmulo. Bom mesmo é depois do enterro, olhar para trás e concordar com Aldous Huxley: “Experiência não é o que acontece com você, mas o que você fez com o que lhe aconteceu”.
Todos temos um "cemitérios de amores" e nessa luta para não enterrar mais ninguém, acabamos nos enterrando um "poquinho" a cada dia... amar é isso mesmo"""
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