A predominância auto-biográfica nesses escritos, a busca por remexer reminiscências, parecem revelar minha alma vetusta, sorrindo como se estivesse à beira de seus 90 anos de idade. O artigo de Danuza Leão, na Folha de São Paulo, do último domingo, evocou novamente recordações e trouxe à lembrança uma herança de comportamentos de meus dois avôs, paterno e materno, especialistas na arte de namorar as pessoas.
Em um texto delicado, singelo, sem maiores pretensões, a colunista defendeu a necessidade de adotamos uma espécie de namoro, mas sem a conotação sexual. “Uma coisa leve, de um charme suave que deveria existir entre todas as pessoas, em todos os momentos do dia”, explica. A cronista ilustra algumas situações, devidamente amaciadas pelo comportamento namorador, como a de alguém que senta num bar e substitui a cara amarrada pelo sorriso ao pedir: “será que vocês têm aqueles cajus maravilhosos para eu tomar a melhor caipirinha da cidade?” Ou ainda o episódio ocorrido com uma amiga que, no aeroporto de Roma, pediu uma água mineral e quando perguntou ao garçon quanto era, ouviu: “Para você, 400 libras”. Danuza, em texto próximo de uma conversa íntima entre mulheres, comentou que tudo bem que ela tinha marido, filhos, embarcando pra casa e não tinha a menor intenção de largar tudo para o alto e viver um romance, mas que gostou, ah, gostou...
A crônica me lembrou a herança de delicadeza deixada pelos meus avôs, Santos Melo e José Bezerra. Raimundo Martins Melo, o meu vovô Santo, ganhou o apelido em seu município, na Baixada Maranhense, por ser tão generoso, a ponto de ser chamado de Santo, Seu Santo. Afetuoso ao extremo, na minha infância, ele trazia chocolates e doces do interior e conversava horas comigo com um carinho transcendental. Lembro dele com uma nota de um cruzeiro na mão, explicando para mim a cultura da inflação entranhada no Brasil, assim: “antigamente, filhinha, essa nota dava para comprar 10 bois!”. Quando eu era castigada pela danação que belisca minha personalidade até os dias atuais, ele dizia: “Seu avô não quer mais ver você de castigo”. O meu avô José de Paula Bezerra, ainda entre nós, com seus 94 anos de idade, nos seduz com pastilhas, frutas, bolos para levarmos para casa. Possui, no próprio nome, a virilidade do José e a sensibilidade feminina de Paula. Com hábitos de monje, Vovô Bezerra acorda todos os dias às 5 da manhã, vai ao Mercado Central, local onde é tão pop star quanto um Michael Jackson. Ao acompanhá-lo, certa vez, fui apresentada a todos os feirantes do mercado, com todo aquele orgulho de avô, quando escutei de uma dona de boxe: “ah, esse aí é meu noivo”. Fácil descobrir o motivo, observando o jeito especial de meu vovô namorar as pessoas.
Em um texto delicado, singelo, sem maiores pretensões, a colunista defendeu a necessidade de adotamos uma espécie de namoro, mas sem a conotação sexual. “Uma coisa leve, de um charme suave que deveria existir entre todas as pessoas, em todos os momentos do dia”, explica. A cronista ilustra algumas situações, devidamente amaciadas pelo comportamento namorador, como a de alguém que senta num bar e substitui a cara amarrada pelo sorriso ao pedir: “será que vocês têm aqueles cajus maravilhosos para eu tomar a melhor caipirinha da cidade?” Ou ainda o episódio ocorrido com uma amiga que, no aeroporto de Roma, pediu uma água mineral e quando perguntou ao garçon quanto era, ouviu: “Para você, 400 libras”. Danuza, em texto próximo de uma conversa íntima entre mulheres, comentou que tudo bem que ela tinha marido, filhos, embarcando pra casa e não tinha a menor intenção de largar tudo para o alto e viver um romance, mas que gostou, ah, gostou...
A crônica me lembrou a herança de delicadeza deixada pelos meus avôs, Santos Melo e José Bezerra. Raimundo Martins Melo, o meu vovô Santo, ganhou o apelido em seu município, na Baixada Maranhense, por ser tão generoso, a ponto de ser chamado de Santo, Seu Santo. Afetuoso ao extremo, na minha infância, ele trazia chocolates e doces do interior e conversava horas comigo com um carinho transcendental. Lembro dele com uma nota de um cruzeiro na mão, explicando para mim a cultura da inflação entranhada no Brasil, assim: “antigamente, filhinha, essa nota dava para comprar 10 bois!”. Quando eu era castigada pela danação que belisca minha personalidade até os dias atuais, ele dizia: “Seu avô não quer mais ver você de castigo”. O meu avô José de Paula Bezerra, ainda entre nós, com seus 94 anos de idade, nos seduz com pastilhas, frutas, bolos para levarmos para casa. Possui, no próprio nome, a virilidade do José e a sensibilidade feminina de Paula. Com hábitos de monje, Vovô Bezerra acorda todos os dias às 5 da manhã, vai ao Mercado Central, local onde é tão pop star quanto um Michael Jackson. Ao acompanhá-lo, certa vez, fui apresentada a todos os feirantes do mercado, com todo aquele orgulho de avô, quando escutei de uma dona de boxe: “ah, esse aí é meu noivo”. Fácil descobrir o motivo, observando o jeito especial de meu vovô namorar as pessoas.
E, afinal, ser gentil, ter chamego no olhar e namorar, com cada gesto ou palavra, são poderosos afrodisíacos na lua de mel de quem vive um caso de amor com a vida. E ainda, como ensinou Danuza: “namorar, sempre, e sem nenhuma conotação sexual, Porque com essa conotação, fica melhor ainda”.
flavinha, amei seu texto. Vou virar freguesa do seu blog. E namorando o nome do seu blog, sem perceber bem, li primeiro Favo de Mel, e so depois Flavia de Melo, a Flavinha da minha infancia.. Vovo Joao me dava 2 cedulas no meu aniversario... e me deu uma vez um guarda roupa de boneca que tinha ate cruzeta, em bom maranhes. Um beijo Dulce
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