terça-feira, 13 de outubro de 2009

Terra das palmeiras onde vivem algumas avestruzes


Os últimos anos, marcados pela sucessão de acontecimentos políticos que expuseram, para todo o País, as vísceras do Maranhão, tiveram também a providencial utilidade de serviram como um soco na apatia generalizada aqui instalada. No entanto, na terra onde rezam lendas de serpentes e carruagens mal assombradas, ainda predominam versões fantasiosas e interpretações superficiais em torno da árida realidade social do Estado.
A ratificação de tais constatações é resultado da minha participação, na semana passada, na VI Jornada Maranhense de Sociologia e no II Seminário Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente, realizados pelo Departamento de Ciências Sociais da Ufma. A discussão de pesquisas e exposição de temas relacionados aos impactos contemporâneos dos chamados grandes projetos de desenvolvimento, particularmente no Maranhão, evidenciou a consolidação de um importante pólo de estudos de tais questões, lamentavelmente separado por um enorme fosso entre Universidade e sociedade.
Questões fundamentais à agenda de desenvolvimento do Estado foram trazidas à tona, sem que a Imprensa tacanha local sequer tivesse a mínima curiosidade de pelo menos passear pelo evento, um celeiro de importantes pautas. A minha vergonha pela omissão dos colegas de profissão, na situação de jornalista acanhada diante de jovens de 20 anos que relatavam, com entusiasmo, suas experiência em pesquisas de campo relacionadas a migrações de trabalhadores e outros problemas sociais, só não foi maior porque tive a alma lavada pelo coordenador da iniciativa, o professor Doutor Horácio Antunes de Santanna Júnior que, no encerramento, clamou: “A sociedade não pode fazer coro à louvação que a Imprensa local e as autoridades fazem destes projetos”.
Só para pontuar a consistência do tema, revelo alguns dados devidamente colhidos pela saudade de voltar a ser repórter: o município de Timbiras é o maior pólo de trabalhadores rurais que migram para as lavouras de cana de açúcar para São Paulo; o assorreamento da Baía de São Marcos, por lixo de navios e outros resíduos, já avança a margem de 2 Km; a monocultura de soja e eucalipto que só serve às mineradoras, se alastra pelo interior do Estado com efeitos danosos, a hidrelétrica de Estreito só emprega 9% de mão de obra maranhense e muitas outras informações que denunciam um processo saqueador adotado nos tais projetos de desenvolvimento. Sobre a propalada Refinaria, a história parece próxima daquela notinha de um famoso colunista social maranhense que, na década de 80, início da implantação do projeto da Base Espacial de Alcântara, profetizava “naves espaciais” e “hotéis intergaláxicos”. Para a nossa desgraça, o Maranhão bocejante da serpente adormecida está mais próximo dos Flintstones do que da família Jetson.

Um comentário:

  1. parabens pelo texto flavinhaaaa, um soco na cara desses bocejantes...vamos acordar essa serpente adormecida......

    Alice Pires

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