O espetáculo da revoada das garças, em coreografia perfeita – a pincelar o campo da visão de uma alvura celestial – foi uma cena que me provocou rara e recente emoção. Em tempos de desencanto diante do persistente abandono do Maranhão que, a cada ano, se parece mais com aquela velha caveira de burro encravada na terra, um passeio de barco pelo litoral banhado pelas águas da praia da Raposa é um lenitivo a restabelecer o necessário entusiasmo de viver aqui, neste ponto do mapa do Brasil.
A experiência de ecoturismo, das mais simplórias e baratas, acaba se convertendo naquilo que considero um luxo:
1 - Parada para mergulhar nas águas límpidas que beijam um dos mais ricos ecossistemas do planeta, os manguezais;
2 - Saborear ostras extraídas do cultivo em cativeiro (a tal “fazenda das ostras”) pela irrisória quantia de 5 reais a dúzia, acompanhadas da possibilidade de levar champagne ou outras bebidas, a gosto dos passageiros;
3 - Deliciar-se, em pleno passeio de barco, com o peixe preparado pela tripulação, que inclui no pacote a chegada 1 hora antes da partida para a escolha do pescado no mercado da Raposa;
4 – Extasiar-se, diante do deslumbrante pôr-do-sol oferecido pelo mês de junho, apreciado a bordo de uma singela embarcação feita pelas mãos dos artesãos.
Um passeio destes lembra o conceito de subjetividade colocado naquele comercial de cartão de crédito: não tem preço. Em certos trechos da viagem surgem pequenos lençóis, apelidados carinhosamente de “fronhas” por Sávio. Explico: Sávio é um rapazinho que integra a tripulação e conta detalhes sobre a fauna e a flora da região, com uma empolgação que me comove. Penso nas palafitas que dão boas-vindas ao minúsculo município da Raposa, à deriva das políticas públicas necessárias ao desenvolvimento local. Sávio, se tivesse nascido em outro estado brasileiro seria, em alguns anos, um apaixonado biólogo ou um excelente engenheiro florestal. Torço para que os sonhos dele não envelheçam. Dos meus 8 anos de idade, quando conheci a Raposa, acompanhada da minha mãe que integrava, junto com o professor Ramiro Azevedo, um grupo de pesquisas sobre a antropolinguística daquela pequena comunidade de pescadores, pouca coisa mudou por lá.
A imagem do balé das garças, o azul forte do céu em contraste com brancura das aves, o cheiro de maré e o ardor do sol na pele ainda me sussurram: é preciso jamais deixar de reverenciar a vida.
Agradecimentos especiais a Eduardo, da Carimã Turismo, que gentilmente “fechou” o barco para o grupo, atendendo às exigências “exóticas” da Expedição chefiada pelo comandante Laplace e pelo coronel Andrade!
Para Gi e Suzy, que passam agora a integrar a lista dos melhores motivos para visitar São Paulo.
Para Gi e Suzy, que passam agora a integrar a lista dos melhores motivos para visitar São Paulo.
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