quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Ópium


Em cartaz recente, em minha cinefilia doméstica, um drama com pinceladas eróticas Ópium: o Diário de uma Louca, uma produção húngaro-alemã, dirigido por János Szász. O filme é ambientado no inicio do século XX, na Hungria. Josef Brenner, escritor e médico, viciado em morfina, trabalha em uma clínica psiquiátrica, e vem sofrendo de um bloqueio mental, sendo incapaz de escrever uma única linha. Ele interessa-se, particularmente, por uma jovem paciente, Gizella, de 28 anos, que é dominada pela esquizofrenia, associada à mania de escrever de modo obsessivo, compulsivo, aterrorizador.

O médico, com déficits de inspiração para produzir uma nova obra, volta-se completamente para o farto universo da escrita desconexa e fragmentada da paciente. O interesse extrapola os limites éticos da profissão e Brenner apropria-se de seus escritos, possuindo também o corpo da jovem. Em um “surto” de sanidade, Gizella alardeia durante uma refeição coletiva no manicômio, que vai se casar com o doutor, deixando no ar a suspeita de que o psiquiatra havia ido muito além da relação médico e paciente.

A cena que antecede o final do filme resume a crueldade da posse. O médico, com a paciente no leito, faz a intervenção cirúrgica denominada “lobotomia” (mais apropriadamente chamada leucotomia), interrompendo as ligações cerebrais, supostamente causadoras da esquizofrenia.

Ópium é uma dose cavalar aos espectadores de olhos esbugalhados às hipersignificâncias cinematográficas. O filme mistura conotações e denotações e vai além dos sentidos, superficialmente detectados. Amor, sanidade e insanidade em uma mistura opaca ou translúcida? Gozo e morte (“pequena morte”, dizem os franceses...)? A cura que adoece e mata? Em mais um versão que repete a tradição shakespeareana do fracasso amoroso, no filme, Brenner apropria-se, sem compaixão, dos escritos da moça para escrever seu livro. E rouba, com crueza, o frágil e, quiçá, único fio de ligação dela com o mundo dito são: o desejo de um amor, tão predominantemente feminino.

2 comentários:

  1. Lindinha essa foi boa! me liga que a gente resolve esse lance de amor aí! kkkk
    beijos

    Eu

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  2. Prezada Flávia,
    Vi o filme ontem, em DVD, e gostei muito do mesmo. Que atores! Fico imaginando uma montagem teatral de OPIUM.
    Sua apreciação crítica do filme é perfeita! Parabéns!
    Um abraço,
    Nilton Maia

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