quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O circo eleitoral







14% dos 4,3 milhões de eleitores do Maranhão são analfabetos. Ou seja: nada menos que 620 mil eleitores maranhenses não sabem ler e nem escrever. A constatação seria alarmante, se não fosse ainda mais gritante a relação entre a baixa escolaridade e a vulnerabilidade a manipulações de toda espécie.


Qualquer cidadão com um razoável bom senso e com um grama de sensibilidade deve sentir asco diante da deprimente cena de moças que seguram bandeiras de candidatos, sob o sol escaldante desse Maranhão de meu Deus, em pleno domingo ou feriado, e ainda nas rotatórias calculadamente floridas do Calhau ou do Olho d´água, em São Luís.
São meninas ou rapazes que poderiam estar em casa, estudando para alguma prova na faculdade ou descansando da semana de trabalho - mas que, sem emprego e acesso à educação, precisam dos vinte reais pagos pelos candidatos que estão aí, prometendo há décadas, todo o Pacote Dignidade, assegurado pelas letras mortas da Constituição Federal deste País de desletrados.

Um breve deslocamento do terreno literário para entrar na fundamentação, com base na realidade maranhense, mostra que, segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisas Aplicadas do Maranhão), em 2002, o Maranhão apresentava a seguinte situação: a menor taxa de escolaridade média do País, apenas 3,6%; menos de 3% da população tinha acesso ao Ensino Superior e, para atingir a média nacional de acesso ao Ensino Fundamental, o Estado levaria 17 anos!

Ainda dentro do tema, cabe a atemporalidade de Gramsci, ao considerar a mídia como o grande partido da burguesia. Nenhuma novidade o fato agravante de que, no Maranhão, 90% do território é coberto por meios de comunicação controlados por um único grupo político.

Deixando os referenciais teóricos para uma próxima oportunidade, é óbvio que os interesses políticos nem sempre coincidem, exatamente, com a construção da cidadania e o aperfeiçoamento do processo democrático. O resultado aparece nas urnas com freqüência: quanto menor o nível de escolaridade do município, maior é a votação nos grupos políticos mais conservadores. Quanto menor é o acesso à educação, mais vulnerável fica o eleitor, mais facilmente manipulado no seu direito à livre escolha na hora de votar.

E nem precisa explicar o carnaval forçado nos programas eleitorais na TV, os bandeiraços deprimentes, os carrões importados com os espalhafatosos retratos dos candidatos (cujas caras não tremem), e o circo ridículo em que as eleições foram transformadas, no Maranhão e no Brasil.

Não é à toa que o palhaço Tiririca é o candidato com maior recall em 2010.






Um comentário:

  1. Caraaaaaaaaaalho, Flavinha! Demais. Beijos no teus cabelos de anjos e na cabeça endemoniada.
    Carlos Roberto

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