sábado, 18 de setembro de 2010

QUALQUER SEMELHANÇA...

domingo, 12 de setembro de 2010

VIAS DE FATO já nas bancas


A cada nova edição, há de se enaltecer uma publicação com a coerência editorial e a coragem do jornal VIAS DE FATO. O projeto, levado adiante por Emílio Azevedo e César Teixeira - com articulação de Alice, Elmo e Altemar - é um tapa na cara de botox da mídia do Maranhão.

Raríssimas e honradas exceções, como a publicação citada, ainda conseguem diminuir a vergonha nos que optaram pela carreira de jornalista, diante dos excrementos expelidos, diariamente, por certos pulhas que, a pretexto de exercerem o ofício jornalístico, comportam-se como fantoches de seus patrões e das cédulas de dinheiro que recebem, de modo clandestino, para fazerem “servicinhos extras”, tais como: lustrar a imagem já desgastada de certas personalidades, enxovalhar reputações, emitir seus julgamentos autoritários, como "coronéis" das próprias versões fantasiadas de "notícias".

VIAS DE FATO é uma outra via ao jornalismo maranhense, de fato. E faz jus àquela frase de Cláudio Abramo, que aqui neste feudo de comunicações oficiosas, parece dita em um dialeto incompreensível:

"O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter".




quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O circo eleitoral







14% dos 4,3 milhões de eleitores do Maranhão são analfabetos. Ou seja: nada menos que 620 mil eleitores maranhenses não sabem ler e nem escrever. A constatação seria alarmante, se não fosse ainda mais gritante a relação entre a baixa escolaridade e a vulnerabilidade a manipulações de toda espécie.


Qualquer cidadão com um razoável bom senso e com um grama de sensibilidade deve sentir asco diante da deprimente cena de moças que seguram bandeiras de candidatos, sob o sol escaldante desse Maranhão de meu Deus, em pleno domingo ou feriado, e ainda nas rotatórias calculadamente floridas do Calhau ou do Olho d´água, em São Luís.
São meninas ou rapazes que poderiam estar em casa, estudando para alguma prova na faculdade ou descansando da semana de trabalho - mas que, sem emprego e acesso à educação, precisam dos vinte reais pagos pelos candidatos que estão aí, prometendo há décadas, todo o Pacote Dignidade, assegurado pelas letras mortas da Constituição Federal deste País de desletrados.

Um breve deslocamento do terreno literário para entrar na fundamentação, com base na realidade maranhense, mostra que, segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisas Aplicadas do Maranhão), em 2002, o Maranhão apresentava a seguinte situação: a menor taxa de escolaridade média do País, apenas 3,6%; menos de 3% da população tinha acesso ao Ensino Superior e, para atingir a média nacional de acesso ao Ensino Fundamental, o Estado levaria 17 anos!

Ainda dentro do tema, cabe a atemporalidade de Gramsci, ao considerar a mídia como o grande partido da burguesia. Nenhuma novidade o fato agravante de que, no Maranhão, 90% do território é coberto por meios de comunicação controlados por um único grupo político.

Deixando os referenciais teóricos para uma próxima oportunidade, é óbvio que os interesses políticos nem sempre coincidem, exatamente, com a construção da cidadania e o aperfeiçoamento do processo democrático. O resultado aparece nas urnas com freqüência: quanto menor o nível de escolaridade do município, maior é a votação nos grupos políticos mais conservadores. Quanto menor é o acesso à educação, mais vulnerável fica o eleitor, mais facilmente manipulado no seu direito à livre escolha na hora de votar.

E nem precisa explicar o carnaval forçado nos programas eleitorais na TV, os bandeiraços deprimentes, os carrões importados com os espalhafatosos retratos dos candidatos (cujas caras não tremem), e o circo ridículo em que as eleições foram transformadas, no Maranhão e no Brasil.

Não é à toa que o palhaço Tiririca é o candidato com maior recall em 2010.






quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Ópium


Em cartaz recente, em minha cinefilia doméstica, um drama com pinceladas eróticas Ópium: o Diário de uma Louca, uma produção húngaro-alemã, dirigido por János Szász. O filme é ambientado no inicio do século XX, na Hungria. Josef Brenner, escritor e médico, viciado em morfina, trabalha em uma clínica psiquiátrica, e vem sofrendo de um bloqueio mental, sendo incapaz de escrever uma única linha. Ele interessa-se, particularmente, por uma jovem paciente, Gizella, de 28 anos, que é dominada pela esquizofrenia, associada à mania de escrever de modo obsessivo, compulsivo, aterrorizador.

O médico, com déficits de inspiração para produzir uma nova obra, volta-se completamente para o farto universo da escrita desconexa e fragmentada da paciente. O interesse extrapola os limites éticos da profissão e Brenner apropria-se de seus escritos, possuindo também o corpo da jovem. Em um “surto” de sanidade, Gizella alardeia durante uma refeição coletiva no manicômio, que vai se casar com o doutor, deixando no ar a suspeita de que o psiquiatra havia ido muito além da relação médico e paciente.

A cena que antecede o final do filme resume a crueldade da posse. O médico, com a paciente no leito, faz a intervenção cirúrgica denominada “lobotomia” (mais apropriadamente chamada leucotomia), interrompendo as ligações cerebrais, supostamente causadoras da esquizofrenia.

Ópium é uma dose cavalar aos espectadores de olhos esbugalhados às hipersignificâncias cinematográficas. O filme mistura conotações e denotações e vai além dos sentidos, superficialmente detectados. Amor, sanidade e insanidade em uma mistura opaca ou translúcida? Gozo e morte (“pequena morte”, dizem os franceses...)? A cura que adoece e mata? Em mais um versão que repete a tradição shakespeareana do fracasso amoroso, no filme, Brenner apropria-se, sem compaixão, dos escritos da moça para escrever seu livro. E rouba, com crueza, o frágil e, quiçá, único fio de ligação dela com o mundo dito são: o desejo de um amor, tão predominantemente feminino.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

HOMENAGEM AOS ABUTRES



Blues da Piedade





Agora eu vou cantar pros miseráveis

Que vagam pelo mundo derrotados

Pra essas sementes mal plantadas

Que já nascem com cara de abortadas

Pras pessoas de alma bem pequena

Remoendo pequenos problemas

Querendo sempre aquilo que não têm

Pra quem vê a luz

Mas não ilumina suas minicertezas

Vive contando dinheiro

E não muda quando é lua cheia

Pra quem não sabe amar

Fica esperando

Alguém que caiba no seu sonho

Como varizes que vão aumentando

Como insetos em volta da lâmpada

Vamos pedir piedade

Senhor, piedade!

Pra essa gente careta e covarde

Vamos pedir piedade

Senhor, piedade

Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

Quero cantar só para as pessoas fracas

Que tão no mundo e perderam a viagem

Quero cantar o blues

Com o pastor e o bumbo na praça

Vamos pedir piedade

Pois há um incêndio sob a chuva rala

Somos iguais em desgraça

Vamos cantar o blues da piedade

Vamos pedir piedade

Senhor, piedade!

Pra essa gente careta e covarde

Vamos pedir piedade

Senhor, piedade!

Lhes dê grandeza e um pouco de coragem!




(Composição: Roberto Frejat/Cazuza)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Cinema e Psicanálise