domingo, 5 de maio de 2013

A dança do meio-fio


Uma pétala do Rosa em sua obra-prima, Grande Sertão Veredas, provoca ebulição nas palavras e sensações adormecidas dentro de mim: “O correr da vida embrulha tudo”. Regida pelo signo da mutação, sofro o assédio, com certa frequência, das várias metamorfoses que surgem ao longo dos bem vividos anos que me são presenteados. Gosto da chuva repentina, das rotas alteradas, das ondas que se levantam do fundo do oceano, afoitas, desafiadoras, rasgando a calmaria da superfície. No entanto, a poesia e os rompantes às vezes assustam, deixando espaço amplo para o inusitado em forma de soco. No som do carro escorre a voz rouca de tia Rita Lee, definindo meu trajeto: Mas sigo meu destino num yellow submarino. Acendo a luz que me conduz. E os deuses me convidam para dançar no meio fio”.
Os ciclos que compõem as marés da vida, vez por outra, aparecem sob a forma de vazante, com ausências e falências de diferentes matizes, necessárias ao depurar de toda sorte de excessos. A razão para as subtrações em nossa falsa auto-suficiência deve ter suas origens na necessidade de transcendência que trazemos na essência. É necessário sair de onde estamos durante algum tempo. É preciso flutuar, tirar os pés do chão, libertar as correntes que nos prendem, frequentemente, aos pesos que acumulamos nesta viagem aqui na Terra. É preciso aprender a dançar no meio-fio, aprender a viver com menos expectativas e até com menos recursos. É o exercitar de movimentos suaves, em espaço diminuto. Roger Garaudy, o qual conheci por meio das bruxas da Biodança, em sua obra Dançar a Vida, menciona a dança como símbolo do ato de viver, como parte integrante das respostas às questões fundamentais do homem contemporâneo e não apenas como uma arte mas, sobretudo, como um modo de viver.
Nesse jeito de dançar a vida as ansiedades não cabem. Ao contrário, o primeiro requisito para a dança é a fluidez, capacidade de se adaptar aos diferentes ritmos que a existência exige. Os perdulários não caminham, são arrastados por suas ambições, jamais satisfeitas. Os despojados bailam ao som de cada música executada pela Grande Orquestra Existencial.
Tenho sustos quando sou assaltada pela vida. Mas lá dentro, um riso de ironia me mostra como são necessárias, ainda que amargas, as perdas. Na próxima maré enchente, o que perdemos pode voltar com mais sabor e alegria. E por falar em alegria, o humor haverá de um dia ser incluído na lista das atitudes necessárias à redenção de uma humanidade doente.





2 comentários:

  1. uuhuuuu..flavinha bom dia...vc foi minha bruxa um dia, me levando para biodança
    ...lembra?????bjsss

    ResponderExcluir
  2. Dani, querida, esse mundo precisa de Biodança! Bjos afetuosos, Flavinha

    ResponderExcluir