Aviso aos navegantes, especialmente jornalistas,
iniciantes ou dinossauros: GLOBONEWS reexibe neste sábado,às 21:30, na Faixa
Acervo, entrevista completa com um dos pais do Novo Jornalismo, o célebre Gay
Talese. O que Talese diz vale por uma "aula de jornalismo".
Por exemplo: confessa que não teria o menor interesse em
entrevistar grandes astros do cinema, porque vivem repetindo o que assessores
de imprensa lhes sopram. Dificilmente pronunciam alguma coisa relevante. Talese
é daqueles que acreditam que a gente anônima pode ser - e é - dez vezes mais
interessante que as chamadas "celebridades". Bingo.
Basta ver a maioria das entrevistas com celebridades: em
geral, são um desfile constrangedor de obviedades, insufladas por
repórteres-vôlei. Ou seja: aqueles que vivem levantando a bola para o
entrevistado. Trágico, trágico, trágico.
Talese fala do personagem de uma das primeiras reportagens
que fez: ao transitar por uma rua de Nova York, ficou imaginando quem seria o
homem que operava aqueles placares luminosos que anunciavam as notícias do dia.
Teve a curiosidade de procurá-lo. Produziu uma reportagem interessante a partir
de uma pauta original.
Idem com um dos clássicos do Novo Jornalismo: Talese escolheu
como personagem uma figura anônima da redação - o redator de obituários, aquele
sujeito que passava o tempo imaginando que frase de efeito poderia escreveria
quando um grande nome morresse.
O resultado do trabalho de Gay Talese é um perfil
excepcional, um dos capítulos da coletânea "Fama e Anonimato".
Eis aí o enésimo exemplo de que não existe assunto
desinteressante. O que existe é jornalista desinteressado.
É uma figura cem por cento nociva à profissão, porque
transforma o Jornalismo num monumento à chatice.
O Jornalismo tinha tudo para ser vívido, interessante,
curioso. É o que acontece quando retrata personagens como os que despertaram a
curiosidade de Talese. Mas, na "vida real", é sufocado por burocratas
que passam a vida "derrubando matéria" (ou seja: jogando no lixo da
redação assuntos que, com toda certeza, interessariam ao público).
Neste exato momento, às 11 horas da manhã do dia três de maio
de 2013, em alguma redação, um sujeito com ar entediado acaba de decretar, com
os olhos semi-cerrados: "Isso não é notícia. Isso não vale. A
"concorrência" já deu"....
Assim caminha a humanidade.
Uma das mais belas pichações produzidas durante a rebelião de
maio de 68 em Paris foi feita na parede de uma das mais tradicionais
universidades francesas por um estudante provavelmente ingênuo : "E se a
gente incendiasse a Sorbonne ?" - perguntava ele.
O jornalismo poderia melhorar se cada iniciante ( e cada
dinossauro! ) refizesse todo dia, logo pela manhã, a pergunta ingênua que o
pichador de 68 fez na parede da universidade : "E se a gente incendiasse o
Jornalismo ?".
Em última instância, é o que o sr. Talese fez: de certa
maneira, incendiou o jornalismo, com imaginação.
Não existe outro combustível contra a mesmice, o tédio e a
chatice do jornalismo burocrático.
Um Gay Talese aparece de cinquenta em cinquenta anos. Mas um
jornalista que aposte na ousadia e na imaginação e não se deixe contaminar pelo
tédio dos burocratas não é uma flor tão rara.
Como diz aquele música bonita dos Rolling Stones, Angie:
"Você não pode dizer que a gente nunca tentou".
Fica, então, o aviso: vale a pena ouvir o que Gay Talese tem
a dizer sobre esta profissão estupenda e desgraçada, o tal do Jornalismo:
reapresentação do DOSSIÊ GLOBONEWS neste sábado (4/5), às 21:30.
Texto: Geneton Moraes Neto
Nenhum comentário:
Postar um comentário