quarta-feira, 13 de abril de 2011

Beco da Bosta


Já utilizei este blog, diversas vezes, como se fosse um divã. Agora, peço perdão aos leitores por usar o espaço como despejo de dejetos, embora com o devido esfíncter, necessário à minha reputação, já algumas vezes alvo da fúria dos coleguinhas adeptos do bullyng jornalístico, preferindo a pauta pessoal aos problemas coletivos. Serve de consolo a máxima de que “só se joga pedras em árvores que dão frutos”.

Pois bem, nunca a palavra lugar comum adaptou-se, de modo tão perfeito à apatia generalizada, infestada na São Luís do Maranhão da atualidade. Asfixia-me acordar todos os dias e enfrentar o trânsito que congestiona as vias de uma cidade intumescida, sem vestígio algum de planejamento urbano, cortada por avenidas, em sua maioria, inauguradas para lamber as botas de algum general ou homenagear, com seus nomes, aliados da velha política predadora. Uma conta que não fecha: 300 mil carros circulando e 3 livrarias.

A manchete da semana ficaria bem melhor em uma cidade administrada pelo Tiririca, uma piada: PREFEITURA GASTA MAIS DE 40 MIL REAIS PARA ILUMINAR A PEDRA DA MEMÓRIA. O melhor a fazer é esquecer, dançar ao som das pedras do meu querido Ademar Danilo e rezar para pedir luzes aos gestores públicos! Isso sem mencionar a pouca vergonha dos buracos exibidos pelas ruas e do aeroporto sem teto que, na versão irreverente de Alice no País das Maracutaias funciona assim: quando o passageiro escuta TAM, não é um vôo da Companhia Aérea que chega, mas um telhado que cai e, na onomatopéia correspondente faz: TAM!

São Luís é uma cidadezinha aprazível com certos restaurantes que fecham para o almoço e outros frequentados por alguns arrogantes que arrotam às custas do Erário. Uma ilha cercada por praias defecadas pelos esgotos do boom imobiliário e de navios que deixam o desenvolvimento do Estado, ipsis litteris, “a ver navios”. Dados de janeiro deste ano mostram que o movimento de cargas no Porto do Itaqui subiu 1.756,99%. Ou seja: 853,60 mil toneladas de cargas movimentadas, sem um centavo destinado a tirar do atoleiro a estática situação dos desvalidos.

O sonho frustrado de fundar nestas plagas uma França Equinocial materializou-se, de modo inverso, na perversão do pesadelo ocorrido na Rebelião, no final do ano passado, no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, com presos vivendo seus dias de terror, nos moldes da Revolução Francesa, decepando cabeças de companheiros de cárcere e arremessando-as para o alto.

Repugnância ainda é a crise de inventividade que corrói a intelligentsia emaranhada, salvo raras e honrosas exceções, de alguns bravos que, volta e meia, esgrimam a mediocridade com suas produções culturais afiadas. E haja tolerância para assistir à invasão das bandas de forró eletrônico e as mocinhas  que cometem a atrocidade de repetir, esgoeladas, as letras das músicas, como se recitassem Sheakespeare. Isso sem falar no golpe do tapete vermelho para assistir Ivete Sangalo, por 300 reais, no “Show do Madison Square Garden”. Por que não fizeram no município de Nova Iorque, no sul do Estado?

Em pensar no que vovó Aimée me contava, de uma época em que as peças de teatro em São Luís eram encenadas em francês. Ah, Montmartre! Ah, Montamartre!














Um comentário:

  1. Bravo, bravo, Flavinha! Serve pra você, serve pra mim, serve pra todo o Maranhão. Já até postei no danadinho do vianensidades.com. Bj

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