Os anos se sucedem como páginas de um livro. Somos nós os autores de nossos próprios rascunhos, escritos inacabados, poemas, contos, obras-primas, folhas inteiras desperdiçadas ou rasgadas, traduzindo episódios e acontecimentos, circunscritos pelo tempo. Na dança dos encontros, ritual integrante da experiência humana, alguns relacionamentos são fortalecidos em suas raízes, alimentadas pela seiva suave do afeto, que une e nutre as conexões. São árvores frondosas e centenárias como os baobás, resistentes às tempestades, sobreviventes às intempéries e pragas de toda espécie.
Assim como os encontros inevitáveis, há os desencontros previsíveis - aqueles que não conseguiram transcender os interesses momentâneos, asfixiados por emoções purulentas, resíduos de patologias atávicas que fazem a pequenez do egoísmo pisotear a ternura, a grandeza de vivenciar o amor ou a amizade. São aqueles que faliram sem a força da transmutação, abrigando-se no efêmero. São também os encontros que fracassaram na covardia de reescrever novos capítulos, em prosa liberta das algemas de conclusões definitivas, ignorantes da imensidão de possibilidades reservadas pela Vida.
A felicidade que desejo a todos que fazem parte do meu precioso patrimônio afetivo, nesta virada de ano, costuma vestir-se de trajes simples como são os momentos de autêntica alegria. É o feliz aprendizado de abrigar-se no silêncio do próprio coração, aprendendo a calar, longe da balbúrdia da queima de fogos, que não apaga as angústias e aflições do dia seguinte. Aos meus amores amigos e amigos amados, cultivados pelo húmus do tempo, contendo a reciprocidade de carinhos, conversas sinceras, sorrisos, trocas intelectuais e afins, quero brindar à inevitabilidade do novo em 2010. Viver é dádiva por demais preciosa para ser desperdiçada. Como um vôo de asa delta, um abraço largo, sal do mar no corpo e beijos que mudam a cor dos olhos. Mais 365 dias para escrevermos a obra-prima de nossa existência. FELIZ NOVO!
Essa crônica é dedicada e inspirada em conversas recentes que tive com alguém que integra meu patrimônio afetivo, Maria Cristina Asevêdo, Juíza de Direito, mas antes disso, uma das minhas maiores referências pessoais.
De onde vem tua inspiração para escrever com tanta alma, menina? E por falar em encontros, jamais cometeria a insensatez de um desencontro - ainda que previsível,contigo. Muchos besos e as melhores previsões para 2010.
ResponderExcluirSe alguém diz que a vida não vem com manual de instruções é porque não leu você, Flávia Querida!
ResponderExcluirBeijo enorme paulista com muitas saudade da tua presença..
Sueli Dantas