quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A liberdade da ternura



Fiz essa foto de Leonardo Boff, na Estação das Docas, Belém do Pará, durante o Fórum Social Mundial, uma das grandes alegrias que me permiti ter em 2009. Há alguns anos, Boff descortinou em mim um universo temático com correspondência de eco forte. Ícone de um tempo que não comporta mais o modelo predatório na economia, no meio ambiente e nas relações humanas, Boff é Doutor Honoris Causa em Política pela Universidade de Turin (Itália), professor visitante da Universidade de Lisboa (Portugal), da Universidade de Salamanca (Espanha), Harvard (Estados Unidos), Basel (Suíça), Heidelberg (Alemanha), além de semear suas observações em diversos outros centros de estudos, tendo recebido, em 2001, o Right Livelihood Awards, espécie de Prêmio Nobel da Paz alternativo.
Escoro meu texto claudicante agora em uma das geniais reflexões de Boff: “A relação de ternura não envolve angústia porque é livre da busca de vantagens e do espírito de conquista”. A ternura é tema que dialoga com a proposta biocêntrica que compõe minha galeria de interesses, incluídos diversos nomes, entre eles, Rolando Toro, Leonardo Boff, Roberto Crema, Martin Bubber e a rede de pensadores das chamadas “minorias criativas”, em defesa de mudanças evolutivas.
Em carta a Lula, logo após sua eleição, em novembro de 2002, Leonardo Boff escreveu, de modo profético, no Jornal do Brasil: “O poder é a maior tentação para o ser humano, pois ele nos dá o sentimento da onipotência divina. Ele é vigor puro. E ficando só vigor, ele é destrutivo. Só a ternura limita o poder, fazendo com que ele seja benfazejo”. Na esfera política, o prenúncio foi cumprido a ponto de a contaminação com o poder ter gerado o “lulismo”, a defecar o “petismo” na mesma descarga dos outros partidos. No plano pessoal, interessa-me a liberdade da ternura, a delicadeza do afeto com o único poder de curar profundas ulcerações emocionais, apascentar inquietações atávicas.
Mas a afetividade parece pouco à vontade numa era em que o consumismo desenfreado inaugurou um modo neoliberal de relacionar-se. Os mecanismos capitalistas de envolvimento emocional foram sofrendo das tais mutações da contemporaneidade: antes era “ficar”, com vestígios de vínculos que ainda existiam nas relações. Agora é “pegar”, um verbo bem mais adequado aos tempos em que se pega em qualquer prateleira, tipos que atendem a diversas necessidades imediatas, instantâneas, distantes da possibilidade de construção de um projeto amoroso mais nobre. O desejo, e suas filigramas psicanalíticas, sorri triunfante, mas cai combalido em cada frustração, correspondente à sua própria lógica de manutenção, decorrente da falta. E sempre que a ternura é afetada, as angústias retomam para suas velhas poltronas.

Um comentário:

  1. Gênia!Flavinha,só quem ama o amor é capaz de chegar aonde tu estás chegando.Sou tu fã.E emocionalmente tu deste um salto.Você já era linda...Agora prepare-se para este ser q chegará na sua vida cheia de azul. Você tá pronta, minha Nêga!
    Lembre-se que qq pessoa é só um fio condutor e que o nosso compromisso é com o sentimento mais nobre: o AMOR!Te amo.Bj e ternura, tua amiga Dadá

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