quinta-feira, 25 de junho de 2009

GráVIDA de mim


Um cheiro forte de mato exala da minha alma de água, agora em forma de cachoeira. Basta um abraço no céu e a vida entra pela boca. A poesia se derrama pelo chão de flores, onde descalços os meus amores vão passar. Eles chegam, carregados pelo tempo, disfarçados de acaso e lambuzados de mel.
O sábio Arquiteto do Universo fez borboletas multicores, o formato caudaloso dos rios, temperou a água do mar com o sal da terra, forrou o teto do mundo de azul e branco, tilintou o céu de estrelas brilhantes, incandescentes e preparou o cenário para nos contar como é fascinante o espetáculo da vida. O mago das palavras, Guimarães Rosa, ensinou que o mundo é mágico e as pessoas não morrem, ficam encantadas. Rubem Alves, mestre da crônica existencial, não conseguiu conter o êxtase diante daquilo sobre o que me atrevo a escrever e proclamou: “Deus tem que existir. Tem beleza demais no Universo”. Osho também segredou sobre a intenção divina de colocar cores no mundo, como forma de nos mostrar que se quisesse tristeza por aqui faria a nossa morada da cor cinza. Diante da generosidade da vida, o antropólogo chileno, poeta e criador da Biodança, Rolando Toro, propõe “viver abundantemente”. Gonzaguinha, que se despediu, precocemente, desta para a outra dimensão, devia desconfiar que tinha pouco tempo por aqui e compôs uma declaração de amor à existência: “Há quem fale que é um divino mistério profundo, é o sopro do criador, numa atitude repleta de amor”. E convoca à revolução de “viver e não ter a vergonha de ser feliz”. Maravilhado, com o que chamou de Maravida, o filho de Gonzagão exclama: “...Quero meu peito repleto de tudo o que eu possa abraçar.” Abraços quentes, risinhos incontidos, ternuras múltiplas, os suaves prazeres do cotidiano e a matéria-prima fundamental da existência: gente.
Como Cazuza, em Blues da Piedade, vamos pedir piedade aos ressentidos, aos inchados de mágoa, aos que inflamam suas veias de ira e grosseria, aos que não se rendem à delicadeza do afeto, aos que foram convidados para a ceia do Senhor, mas perderam a chance de saborear a existência. Delícia é viver.






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