Era uma manhã de certo dia 20 de novembro que parecia dissolver a véspera áspera. Um banheiro numa casa de praia me recepcionava, de forma excêntrica, com uma pequena imagem, talhada em madeira, de São Francisco de Assis. O santo iconoclasta do Capitalismo destoava do ambiente reservado aos mais íntimos e secretos rituais de higiene. Lembrei-me da velha frase da adolescência roqueira: “o banheiro é a igreja dos bêbados”. A ausência de embriaguez anunciava que meus próximos capítulos seriam de muita lucidez. Um clarão acompanhou-me durante boa parte dos 365 dias de 2012, causando, por vezes equivocadas, desconforto em minha alma que tinha por hábito abrigar-se em becos escuros. Por décadas fui devota de Eros, cuja adoração, a partir de então, passava a ser substituída pelo singelo São Francisco.
Uma digressão precisa ser feita: reza a lenda que, numa noite, Psiquê apaixonada pelo amante Eros que o visitava todas as noites de escuridão, resolve acender uma vela para enxergá-lo. Ele, ao ter a sua identidade revelada, foge para longe. A partir então, Psiquê passa a vagar pelo mundo numa eterna e desenfreada busca pelo amor perdido. Uma busca de toda uma humanidade trôpega, à procura do desejo. Já São Francisco, sintetiza a máxima reveladora da Lei do Retorno: “é dando que se recebe”. Ele nos impele a uma comunhão universal, em que cada um contribui com uma cota de amorosidade que se conecta e irradia em uma grande rede de alta tensão do Bem. O enunciado é lógico. No teorema de nossos gestos, recebemos aquilo que damos, ainda que o emissor seja alguém diferente de quem já damos. A mensagem franciscana é encontrada em diversas filosofias, a exemplo do Taoísmo, com o mesmo sentido original.
Eros e São Francisco se apresentam antagônicos. Um se manifesta na escuridão e outro é luminosidade, a irradiar-se pela Teia Universal. Francisco é real e Eros é mito. O primeiro se despe das amarras da materialidade para melhor se expressar, em liberdade. O segundo se manifesta de modo oculto e demanda uma busca insana, quase sempre sem ter fim, apenas substituída por outra procura. É assim que grande parcela das pessoas classificam o que rotulam de “amor”. O amor, se fosse cego, não exigiria que o amado se presentificasse.
Eros e São Francisco se apresentam antagônicos. Um se manifesta na escuridão e outro é luminosidade, a irradiar-se pela Teia Universal. Francisco é real e Eros é mito. O primeiro se despe das amarras da materialidade para melhor se expressar, em liberdade. O segundo se manifesta de modo oculto e demanda uma busca insana, quase sempre sem ter fim, apenas substituída por outra procura. É assim que grande parcela das pessoas classificam o que rotulam de “amor”. O amor, se fosse cego, não exigiria que o amado se presentificasse.
Corrompidos vêem na máxima franciscana um jogo de interesses e de trocas. Do ponto de vista da Lei de Ação e Reação, recebemos exatamente aquilo que damos. O ciclo que envolve a roda dos acontecimentos é movido por tal engrenagem. Basta estar atento aos movimentos para perceber.
Eu jamais poderia menosprezar a presença daquela escultura minúscula de Francisco de Assis, testemunhando a minha primeira manifestação fisiológica, na manhã de um domingo claro de sol. Ao me deparar com a imagem, cheguei a pensar que se tratava de Santo Antônio, o casamenteiro. Mas a artimanha do destino foi ainda mais sagaz do que eu poderia imaginar.
Eu jamais poderia menosprezar a presença daquela escultura minúscula de Francisco de Assis, testemunhando a minha primeira manifestação fisiológica, na manhã de um domingo claro de sol. Ao me deparar com a imagem, cheguei a pensar que se tratava de Santo Antônio, o casamenteiro. Mas a artimanha do destino foi ainda mais sagaz do que eu poderia imaginar.
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