quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Baile dos Encontros



A metáfora da dança para expressar os relacionamentos é das minhas prediletas. A definição de Eros - o deus que tinha o poder de transformar o imóvel em movimento - remete à conotação bailarina dos movimentos de corpos e almas que se ajustam a uma única coreografia.
São passos que, aos poucos, vão adequando o ritmo individual a um só compasso. As respirações e direções de cada um, sujeitas a tropeços durante a coreografia, mas gradativamente em busca de uma unidade chamada harmonia. Não há dança quando pés caminham em direções distintas. Nem há encontros quando movimentos, compassos e direções não cedem seus ritmos próprios para permitirem o surgimento de um único ritmo, o de duas pessoas unidas, embora diferentes e essencialmente dispostas a participar de uma dança a dois.  

O Baile, filme antigo de Ettore Scola, é ambientado em um único cenário, o salão de dança. Mesmo com a ausência de diálogos, as câmeras destacando fisionomias e expressões dos atores permitem identificar as caracterísitcas diferentes de personagens, tais como o tímido, o abusador, o causador de intrigas, o bajulador e outros.
O baile dos encontros é uma festa: existem os bêbados, os alegres, os que vieram só dar uma passada rápida, os que apenas exibem seus trajes com receio de ceder uma parte a alguém. Há ainda os que se apressam em dançar com o maior número de parceiros e terminam na mais completa solidão. A dança dos encontros exige esforço e sinergia. E o amor pode acabar tão rápido quanto certas canções. Mas a vida há de sempre se impor, plena, como a mais perfeita tradução de movimento.  E que os encantos das Cinderelas jamais terminem à meia-noite, antes da valsa principal.

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