A insônia é uma visitante oportunista. Infiltra-se nos recantos mais vulneráveis e se espalha, absoluta, por lençóis de pensamentos errantes. Certa noite, desta semana, ela me visitou novamente e fez a festa da angústia insone. São momentos, assim, em que toda a incompreensão diante dos desígnios divinos tem o tamanho inversamente proporcional à nossa pequenez. Nestes instantes de reflexões fecundas, o sentido da vida é protagonista do enredo noturno.
Vida: enorme colcha de retalhos tecida por multiplicadas experiências, presa pelo determinismo dos nossos laços de afeto. Vida, que parece esgarçar-se diante da perda de um filho, um pai ou mãe, um irmão, uma amiga, um amor. Dormir com a certeza de um bem, de possuir um patrimônio afetivo e acordar com seu trágico desaparecimento é dor que dilacera sem cessar, anunciando o momento de provação, no dito: “as provas mais penosas são aquelas que afetam o coração”.
O amor, em suas mais variadas manifestações, justifica a vida. Certa feita, como um sinal da Espiritualidade, deparei-me diante de um livro, numa banca de revistas de aeroporto, com o título: “Com o amor não se brinca”. A ocasião parecia segredar o conselho da capa. Após alguns longos anos de erraticidade emocional, procuro renovar os propósitos de reverenciar a sacralidade da existência, incluindo neles o respeito aos vínculos afetivos. São eles que nos fornecem a vida e são eles que nos dilaceram de inconsolável tristeza nos momentos de perda.
Como na fábula da formiga e da cigarra, as cantorias transitórias e o gozo ilusório não vão nos amparar nas ocasiões de açoites. O único sustentáculo diante do incompreensível é Deus, Pai de Bondade. E Deus é justamente amor. O único amor que preenche a nossa incompletude.
O texto e a insônia resultam do abalo diante da morte de Marcelo Dino Castro, filho do advogado Flávio Dino.
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