Já fiz terapia. E reconheço o tempo em que dedicamos a nos vasculhar, a incursionar pelos porões sombrios de nós mesmos, no escafandro auto-investigativo, como um dos maiores investimentos feitos durante uma existência. Por mais temerário que seja o mergulho, emergir de volta às experiências exteriores é sempre um alento.
No entanto, não recomendo aos encapsulados em suas zonas de conforto, aos que cultuam por décadas comportamentos empedernidos ou repetitivos, aos ensimesmados que temem sair de si, ao menos para dar uma volta no quarteirão de possibilidades. O prazer (e o desprazer) de conhecer a si mesmo dói. A inscrição no Templo de Delfos atravessou os séculos, guardando a valiosa recomendação: conhece-te a ti mesmo.
No entanto, não recomendo aos encapsulados em suas zonas de conforto, aos que cultuam por décadas comportamentos empedernidos ou repetitivos, aos ensimesmados que temem sair de si, ao menos para dar uma volta no quarteirão de possibilidades. O prazer (e o desprazer) de conhecer a si mesmo dói. A inscrição no Templo de Delfos atravessou os séculos, guardando a valiosa recomendação: conhece-te a ti mesmo.
Os anos dedicados a inquirir-me proporcionam hoje um acervo valioso de flávias, um mapa de voo indispensável - apesar das mudanças bruscas de clima e temperatura, dos ventos de cauda que surgem, repentinamente, na rota pré-estabelecida, obrigando-me a alterar velocidade e direção. O ato de conhecer a si mesmo concede oportunidades de fazer algumas amizades e inimizades consigo mesmo.
Por vezes, sinto como se fosse minha inimiga íntima. São certos dias em que invejo a imbecilidade das pessoas toscas. A alegria obtusa dos que mascam modismos, clichês, axé music e forró eletrônico (ugh!). Eles, provavelmente, devem ser mais felizes do que eu.
Por vezes, sinto como se fosse minha inimiga íntima. São certos dias em que invejo a imbecilidade das pessoas toscas. A alegria obtusa dos que mascam modismos, clichês, axé music e forró eletrônico (ugh!). Eles, provavelmente, devem ser mais felizes do que eu.
Admito a ancestral dificuldade em lidar com o óbvio, com a ferrugem da rotina, com as fórmulas perfeitas, as receitinhas de bolo. O lugar comum nem me interessa visitar. Não me adequo ao modo e estilo da “manada dos normais”, na exata expressão do compositor Sérgio Sampaio, já citada aqui neste blog. Fizeram-me escorpiana, inadaptável por natureza aos ambientes assépticos. Sou feita de crosta. Em minhas veias não circula água com açúcar. Reconheço-me na citação de Saramago: "Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."
Não, não sou fácil. Mas olhe, meu bem, ao meu lado você não correrá o risco de passar o resto da vida bocejando de tédio.
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