Das perversidades planetárias da atualidade, a situação dos 440 mil refugiados da Somália é, provavelmente, a mais atroz de que se tem notícia. Famílias inteiras cruzando o deserto para fugir de um cruel inimigo, produzido pela mais grave das chagas morais da humanidade: a fome – principal produto do egoísmo na Terra.
Qualquer comoção diante da sucessão de tragédias suportadas pelos somalis assume dimensões de um soco no estômago. Acompanhar o noticiário daquele submundo equivale a sentir o cinismo da espécie dita “civilizada”. De todas as informações, algumas se sobressaem como vísceras expostas.
A ausência de choro nas crianças ocorre em decorrência do avançado estado de desnutrição. O mais básico instinto infantil, a primeira e mais elementar forma de expressão humana desapareceu, por completo. "Ela tem muita fome, mas acho que ficou fraca demais para chorar", diz uma das mães, Shukri Mohamed, de 28 anos, embalando seu bebê de oito meses, segundo relato do jornal Folha de São Paulo, que, textualmente, descreve: Pele e osso, a criança tem os olhos vidrados, indiferente ao bando de moscas que passeiam sobre seu rosto.
A ausência de choro nas crianças ocorre em decorrência do avançado estado de desnutrição. O mais básico instinto infantil, a primeira e mais elementar forma de expressão humana desapareceu, por completo. "Ela tem muita fome, mas acho que ficou fraca demais para chorar", diz uma das mães, Shukri Mohamed, de 28 anos, embalando seu bebê de oito meses, segundo relato do jornal Folha de São Paulo, que, textualmente, descreve: Pele e osso, a criança tem os olhos vidrados, indiferente ao bando de moscas que passeiam sobre seu rosto.
Outra face da crise humanitária que chama a atenção: à frente da migração compulsória de milhares de pessoas que fogem da fome estão mulheres e não homens ou líderes. Dos 440 mil refugiados no campo de Dadaab, 80% são mulheres, crianças e idosos. As mulheres são responsáveis por garantir a sobrevivência de suas famílias. Os homens ficaram para trás - ou porque foram forçados a lutar na guerra ou porque alegam que precisam proteger suas propriedades e animais. Eles não admitem perder seus bens materiais. Embora de menor importância, o detalhe escancara, em contraponto, o instinto básico, feminino: o cuidado, a proteção, a nutrição - em uma escala de valores completamente diferente da maioria dos machos.
Numa folheada rápida, este final de semana, no livro da escritora americana Susan Sontang, Olhando a Dor dos Outros, observei o relato de uma troca de cartas entre um advogado inglês e a romancista britânica Virginia Woolf. O advogado considerava as possibilidades de prevenir o começo das guerras. Woolf respondeu que guerra era coisa de homens, que gostam de guerras, em troca da gloria e da satisfação em lutar, emoções de pouca ressonância no psiquismo feminino.
Além de assistirem à esqualidez de seus rebentos secos pela fome, as mulheres da Somália ainda enfrentam outra crueldade, os frequentes ataques de estupros. Segundo o Internacional Rescue Committee, os casos multiplicaram-se por quatro desde maio. Entre janeiro e junho, foram registrados 358 casos – mais de 2 por dia e nenhuma punição.
Mulheres são criaturas que a Divindade escolheu para alojar a espécie humana no santuário do próprio ventre. Tal condição é suficiente para descrever a subjetividade feminina e dispensa maiores teorizações. Fêmeas desprovidas do sentimento de proteção, de atenção e de cuidado deveriam usar cuecas.
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