Mantra do sábio Paulinho da Viola, em sua interpretação e letra da música Argumento, adicionado, há alguns meses, no meu mapa de vôo pessoal: “Seja como um velho marinheiro, que durante o nevoeiro, leva o barco devagar”.
A calmaria e a serenidade são virtudes adquiridas e aperfeiçoadas, ao longo de muitos temporais. A certeza é âncora necessária, após longas rotas percorridas. Entre tantas chegadas e partidas, em meio à sucessão de nevoeiros, tempestades - intercaladas por paisagens excepcionais no amanhecer e anoitecer da temerária aventura humana – os nossos princípios são bússula a guiar o barco, da qual jamais se deve prescindir ao ousar atravessar o oceano.
Embora sob a composição da água, fluídica por natureza, aprecio a firmeza das rochas. A frouxidão emocional, a displicência afetiva, a deslealdade estelionatária não despertam indignação juvenil nos velhos marinheiros, mas um profundo lamento, quase um desdém.
Navegar, nem sempre por águas tranqüilas, é arte, um permanente exercício de equilíbrio, ajuste e aperfeiçoamento aos que se recusam à paralisia do cais do porto. Os ventos fortes, a brisa suave, a direção, as mudanças climáticas a exigirem atenção e adaptação a todo instante. Velejadores fracos e negligentes costumam não realizar as grandes travessias e, comumente, são engolfados pelas ondas mais furiosas. Outros, afoitos, são incapazes de apreciar a espetacular viagem que se traduz na preciosidade de aprender a navegar. A sabedoria surge durante a travessia. Chegar talvez seja o menos importante. Fernando Pessoa, quiçá, diante do Tejo, elaborou seus versos por tal razão:
“Navegar é preciso. Viver não é preciso”.
Navegar pela imensidão de possibilidades. A sensação de ter o controle do próprio leme, de saber onde se quer chegar, de seguir a rota indicada pela bússula dos nossos princípios, é confortadora. Ainda que ocorram imprevistos desagradáveis, tempestades e o cântico traiçoeiro das sereias.
Única, inigualável é a sensação de Ulisses ao voltar para os braços mansos de sua Penélope. Navegar é necessário e certas paisagens, durante a travessia, são extraordinariamente belas.
Única, inigualável é a sensação de Ulisses ao voltar para os braços mansos de sua Penélope. Navegar é necessário e certas paisagens, durante a travessia, são extraordinariamente belas.
Que belo texto, Flavinha. Fiquei encantado. Você escreve com força narrativa, como quem golpeia o bronze à procura do metal mais nobre, e o faz reluzir em poesia. Escreve contos, e romances também. A literatura não pode prescindir de você. Nem nós, leitores.
ResponderExcluirNonato, querido.
ResponderExcluirO comentário vindo de uma das referências mais sensíveis da Imprensa maranhense é uma alento na lavra diária com as palavras e na minha insistente mania de flertar com a Literatura.
Um grande abraço e saudações desta escriba ainda incipiente!
Pois nao deixe de flertar, as palavras procuram o escritor da mesma forma que o rio segue firme, inexorável na sua trilha para o mar. O importante é saber que vc tem talento. O resto é um persistir constante. Lembre-se do Hemingwuay, um dos escritores mais geniais de todos os tempos, que suou sangue e teve que gastar muita tinta, até que o mundo o reconhecesse como tal. De você e sobre você quero ler ainda muito.
ResponderExcluir