Depois de ouvir um depoimento, considerando o humor uma das formas superiores de inteligência, aconcheguei-me ainda mais ao meu lado dionisíaco. Durante muito tempo, adorava mimar meu niilismo, como um gato de estimação, adornar com as flores murchas da melancolia os meus dias cinzentos. Comecei com doses leves da depressão de Renato Russo, ídolo atemporal da minha galeria, misturei a porções da angústia drummondiana, até chegar à situação de quase dependente química de Schopenhauer.
De uns tempos para cá, após experienciar comédias pessoais, travestidas de dramas emocionais, deixei de fazer panfletos e folders da minha tristeza. Viciada em endorfina, hoje faço ginástica, coleciono exemplares da antiga revista Chiclete com Banana, tirei a Bundas, de Ziraldo, das minhas gavetas velhas e agora adiciono aos meus dias o tempero dos catecismos de Zéfiro, reeditados recentemente, o erotismo artístico do quadrinhista italiano Milo Manara, além, é claro, dos nossos talentosos maranhenses Beto Nicácio, Iramir Araújo e trupe. Por falar em Zéfiro e Manara, sou integrante da comunidade Bom Humor é Afrodisíaco. Tem algo mais brochante do que gente mal humorada? O amor pode ser redondo, por que, não? Não precisa ser chato, como insistem os neuróticos ou os seguidores de Tristão e Isolda e da tradição shakespeariana.
Esse texto, que começa meio reticente, em tom habitualmente confessional, é uma homenagem singela ao cartunista Glauco, assassinado, estupidamente, por membros de uma parcela da humanidade que sofre de mau humor, elevado ao nível crônico da violência. Conhecido por suas charges publicadas, desde 1977, no jornal Folha de São Paulo, o paranaense Glauco foi o criador de personagens como Dona Marta, Zé do Apocalipse, Doy Jorge, Geraldinho e Geraldão. As tirinhas dele integram o rol dos bons motivos que me provocam cócegas na alma. Geraldão, Casal Neuras e Zé do Apocalipse são personagens que cheguei a enxergar vivos em pessoas amigas, uma delas que se delicia em trazer notícias de tragédias. Já conheci várias criaturas que são a própria encarnação do Casal Neuras, uma criação genial que retrata os adeptos da chatice amorosa, os que incluem as chamadas DRs na rotina semanal.
Glauco, obrigada pelos teus traços, pelas tirinhas que rabiscaram de alegria o meu cotidiano.
Glauco, obrigada pelos teus traços, pelas tirinhas que rabiscaram de alegria o meu cotidiano.
Vinha, que bela homenagem ao Glauco.
ResponderExcluirHoje ao ligar a tv pela manhã, deparei-me com a notícia de que esse maravilhoso cartunista tinha recdebido o chamado para passagem, chamado este antecipado pela violência, que tanto ele combateu nas suas tiras.
Fica o seu legado: Casal Neuras, Dona Marta...o ensinamento que a vida pode ser vivida com humor e que podemos reinvidicar com muita inteligênia as coisas que não estão certas por aí.
Beijo no teu coração. Alce
Flávia,
ResponderExcluiro Brasil perde um artista que sabia fazer humor de forma muito sintética e particular.
Seu traço limpo e humor sarcártico divertiram muitos da minha geração que cresceram lendo a revista Chiclete com Banana.
Lamentavelmente, uma perda irreparável.
Por outro lado, agradeço por ser lembrado nesta sua belíssima homenagem.
Sou seu fã.
Beto Nicácio