segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Generosidade: artigo de luxo na lista de Natal



O argumento dos indiferentes diante da generosidade que reaparece como tema, todos os anos, durante a época natalina é que, parte das boas práticas decorre da necessidade que os donos de bolsos mais estufados têm de diminuir o peso de suas consciências. Dois mil e nove anos depois, a mais famosa data da cultura cristã é celebrada pelo mundo neoliberal, dentro da lógica consumista em que, no Brasil, por exemplo, o aniversariante parece ter sido preterido e o peru, o principal homenageado.
A escandalosa deturpação dos valores defendidos por Jesus vai desde a suntuosidade das modernas catedrais, os shopping centers, segundo Frei Betto, onde endinheirados são ungidos por anjos-vendedores, tratados como se estivessem em um paraíso e aqueles que não têm como gastar estão condenados a arder nas labaredas do Inferno. Nas lojas chiques do shopping Cidade Jardim, em São Paulo, um vestidinho Channel, conforme conta Danuza Leão em seu último livro, custa 8.500 reais, um blazer, 12 mil reais, e o preço do ingresso de um cinema, com direito a garçon servindo vinho ou champagne, a bagatela de 50 reais!



O que não custa é lembrar que o filho de José e Maria nasceu numa manjedoura, espécie de berço de palha, em um forte simbolismo de humildade e despojamento material. Contraditoriamente, o maior símbolo do Natal capitalista é a ilusória figura obesa de Papai Noel, com seu trenó abarrotado de objetos materiais, embrulhados em papel para impressionar. E o cenário alegórico segue com corações gélidos que preferem aquecer suas ceias para o ritual do pecado da gula, em mesas fartas e vazias de espiritualidade. Alguém, por acaso, já ouviu falar da sensação de estranha tristeza que algumas pessoas sentem no período natalino?
Bem antes da popularização de conceitos como Responsabilidade Social, Inclusão, Terceiro Setor e outros, o sociólogo Herbert de Sousa, o Betinho, foi o primeiro a converter solidariedade em política social e a rejeitar a noção de caridade como pieguice, com o seu Natal sem Fome. Uma minoria segue o exemplo de seres humanos extraordinários como Betinho, Jesus, Madre Teresa, Chico Xavier e tantos iluminados. Preferem arrotar suas ilusões materialistas, tomando sal de frutas para aliviar os excessos que, por mais paradoxal que pareça, decorrem de seus vazios.
A generosidade exige como pré-requisito a virtude incondicional de amar. E amar, convenhamos, não é tarefa das mais fáceis. Só quem se emociona diante de olhos marejados de fome ou de dor consegue realizar, sem culpa, o exercício fundamental do Bem. Não basta desejar a maior ambição do ser humano na Terra, a felicidade. É preciso fazer alguém feliz. FELIZ NATAL!


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