sexta-feira, 4 de abril de 2014

Exercícios do Instante



Já fui uma amante insana da vida, a ponto de lamber minhas próprias feridas. O bafo de oxigênio inebriava meu desejo incontrolável de viver, criar, voar pelos ares que a minha mente fervilhante abria. A timidez dos primeiros anos de estágio na existência guardava a polifonia de temas ansiosos e variados. O peito incendiava e a pressa me arrastava por variadas vielas e becos, até cair exaurida de tanto prazer de existir. 

Mas o tempo costuma arrefecer certos ardores juvenis, contidos pelo recato exterior. Os joelhos e os devaneios já não são assim tão afoitos. O apetite incontrolável pelo banquete servido pelo Divino Mistério Profundo agora se transforma em delicada degustação. Nada mais é tanto assim. A força que irradia vem da substância adquirida pelas experiências, dolorosas ou prazerosas, e não apenas dos ímpetos que me conduziam.


A alma, em sincero sorriso de satisfação, já sabe o que vai poder levar na bagagem. Dedico-me à faxina dos entulhos. Busco o aprimorar interior. Desintoxico os maus hábitos emocionais. Ainda há muito trabalho pela frente. Mas há de ser recompensador não mais precisar de um pote de ouro no final do arco-íris!

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