segunda-feira, 11 de março de 2013

Grosseria Epidêmica

 “Deixai toda esperança, ó vós que entrais”, vaticinou Dante Alighiere à porta do Inferno, no clássico A Divina Comédia. A frase parece sob medida para ser afixada na entrada da dita modernidade em sociedade. A notícia sobre o estudante de Psicologia, Alex Siwek, que atropelou ontem (10/03) um ciclista na Avenida Paulista (SP) e, além de não prestar socorro, jogou o braço do jovem no rio, é mais um exemplo de como o caos urbano pode ser elevado ao nível do grotesco.
Diante dos tiranos sociais, em circunstâncias degradantes de uma vida civilizada, o desencanto e a desesperança disputam espaço com o sentimento de indignação que ainda resiste nos poucos e bons. Quais seriam as razões psicológicas, culturais, sexuais e neuroses outras que levam boçais a furarem uma fila, quando você está aguardando há duas horas para ser atendido? Ou quando é obrigado a purgar sua impaciência, esperando 40 minutos o cara de pau que trancou seu carro no estacionamento?
A noção de bom senso parece ter sido esmagada pela urbanização acelerada, pelos problemas da mobilidade urbana e pelos ditames da era da competitividade e de seus valores distorcidos. O mundo foi assolado pela grosseria epidêmica, infestada como uma praga no convívio social. Os Hitlers domésticos já não se ruborizam em fazer suas demonstrações públicas de arrogância e autoritarismo, desrespeitando os direitos de portadores de necessidades especiais, idosos, atropelando até as mais elementares regras da boa convivência. Eles expelem sua bílis e vomitam suas frustrações, ambições e recalques no trânsito, no ambiente de trabalho e nas mais diferentes ocasiões. Gentileza em quem ocupa um cargo de poder é quase um artigo de luxo aqui por estas bandas. Em São Luís, chega-se ao cúmulo de considerar os mais educados assim: “Esse deve ser gente de fora”. E ai do homem que se atreve a ser gentil e atencioso, pois, via de regra, é confundido com gay (pelo menos neste quesito os inquisidores do século XXI reconhecem). No outro extremo estão os machos que, ao serem ultrapassados no trânsito, agem como se tivessem roubado sua virilidade. São brucutus escondidos por debaixo dos ternos Armanis. E moças de uma vulgaridade que nem uma coleção de sapatos Fernando Pires consegue disfarçar a deselegância.  
Ouso especular sobre as origens da péssima educação dos que exibem seus maus hábitos no trânsito, nas filas ou em outros episódios de total falta de respeito com as regras do convívio em sociedade. Sérgio Buarque de Holanda, em O Homem Cordial, descreve: “O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particularistas”. A velha e feia mania de confundir o público com o privado, já tão largamente adotada no exercício das práticas públicas, alcançou a ampla esfera social. As leis e o conjunto de normas e condutas que consistem o Direito existem para regular as relações sociais. Não são as vontades particulares de cada um que devem prevalecer. Se não é possível educar os maus hábitos, que eles se mantenham restritos ao círculo familiar, onde as regras que prevalecem são as de casa.
Os problemas que atingem o mundo de 7 bilhões e meio de pessoas também passam, urgentemente, pela boa educação e pelos respeito aos direitos de cada um.














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