Afora o ufanismo exacerbado, característico dos filhos de Tio Sam e do seu complexo de “Umbigo do Mundo”, Barack Obama mais uma vez se consagrou pela oratória voltada a captar e expressar os anseios coletivos. A retórica presidencial faz falta aos nossos líderes tupiniquins, dos quais tão recentemente fomos plateia para apelos e tropeços gramaticais do bom, velho e pop Luiz Inácio Lula da Silva. Ao seu modo, Lula soube falar a língua do povo, com metáforas de gosto duvidoso e declarações infames, mal ajambradas para a boca de um presidente. Coisas do Brasil de Macunaíma e Zeca Pagodinho.
Pois bem, Obama não cumpriu a promessa de fechar Guantánamo, a prisão norte-americana localizada na Ilha de Cuba, símbolo de atrocidade e, segundo declarou a Anistia Internacional este ano, “de atentado aos direitos internacionais”. Já são dez anos de arbitrariedades contra a humanidade e da promessa feita pelo presidente norte-americano, em sua primeira eleição, só restou o verniz de mais um belo discurso, em entrevista ao programa 60 Minutes, da rede de televisão americana CBS, quando ele declarava que fecharia a prisão de Guantánamo para recuperar "a estatura moral dos Estados Unidos no mundo". Barack não comprou a briga. E também exagerou ao afirmar, sobre a morte de Bin Laden, que valeram os esforços para “tornar o mundo melhor”. Mas em mais um episódio soube capitalizar o sentimento da nação.
O puritanismo estaduniense rende-se ao multiculturalismo mundial e às megatendências de comportamento, em uma era que não tolera mais a própria intolerância, seja ela de orientação sexual, social, racial ou outra. O primeiro presidente negro da América é um produto desta contemporaneidade alargada e sabe como descrever sua época, quando afirma: “It doesn't matter whether you're black or white or Hispanic or Asian or Native American or young or old or rich or poor, able, disabled, gay or straight, you can make it here in America if you're willing to try”.
Ele discursa como estadista, quando afirma: “Nós somos maiores do que a soma das nossas ambições individuais.” E se suas palavras integrassem o repertório de práticas e ações dos líderes mundiais, em especial da classe política brasileira, a propalada Reforma Política começaria por um novo perfil de homens públicos. Marx Weber já anteciparia o fulcro do significado da política: “por os dedos entre os raios da história”.
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