domingo, 23 de maio de 2010

Peritoró, a rodoviária e o tempo



 
Rodoviárias, aeroportos sempre me provocaram as mais familiares sensações de estranheza. Invade agora esse diário de bordo a esdrúxula figura de Quasímodo - personagem da obra O Concunda de Notre Dame, de Victor Hugo, um livro que habitava a estante da casa de meus pais, vestido em uma solene capa dura, azul com letras douradas, que remexia minha imaginação adolescente.
Sempre fui fascinada por Quasimodo, que nasceu com uma notável deformação física, uma enorme verruga cobrindo seu olho esquerdo e a grande corcunda que dá nome à obra. Abandonado ainda criança, Quasímodo foi adotado por um arcebispo da Igreja, que o designou para ser sineiro da Catedral de Notre-Dame de Paris. Devido ao alto som dos sinos da catedral, acaba surdo.

Quasímodo com suas badaladas no sino é uma das mais geniais metáforas literárias sobre o tempo. Os sinos que dobram. As horas que passam. A Catedral de Notre Dame que, erguida, parece desafiar os séculos. Quasímodo me faz lembrar Peritoró (a 222 Km de São Luís), um lugarejo encravado no meio do Maranhão, cuja maior atração é uma rodoviária. Ao viajar a trabalho, meses atrás, voltei a Peritoró. Com a poeira da solidão dos viajantes em mim, vi cenas de um filme: o tempo e a rodoviária de Peritoró. A transitoriedade expressa no vai e vem dos ônibus, que chegavam e saíam, a todo instante. A feiúra de Quasímodo é Peritoró, vítíma da política corcunda que transformou o gigante Maranhão em um Nelson Ned do desenvolvimento. As fotos feitas por mim para esse Diário de Bordo, mostram a busca fracassada de um tempo perdido em Peritoró. Do Diário de Bordo chego ao bardo mor, Fernando Pessoa, que dizia: “para viajar, basta existir”.











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