Acontece daqui a pouco o lançamento da revista em quadrinhos “A Lenda da Carruagem Encantada de Ana Jansen”. Haverá bate-papo com dicas de desenhos e criação de personagens com método fácil e divertido para crianças.
terça-feira, 12 de setembro de 2017
sexta-feira, 29 de maio de 2015
A Litera me atura
Ao desfrutar do prazer indescritível de ler a historinha de
um reizinho mandão para Luísa, lembrei da minha infância cercada de Monteiro
Lobato, Malba Tahan, Casimiro de Abreu e outros escritores tão presentes nos
escaninhos da minha memória. As lendas orientais, as artimanhas de Emília do
Sítio do Pica Pau Amarelo entravam pelo meu ouvido, passeavam pela minha mente
e faziam festa dentro de mim. Ao som da voz de Noca, a nossa querida empregada
doméstica, com seu hálito rouco de cigarro, eu ouvia, maravilhada, palavras
aladas que se enroscavam umas nas outras, até formarem um mosaico mágico de
personagens e enredos, invadindo minha cabecinha de sonhos e fantasias.
Desprovida de maiores recursos intelectuais, Noca foi a minha
mestra na arte de ouvir e ler histórias. A lembrança dela ainda permanece viva,
acompanhando cada linha do texto com seus dedos negros, pintados de esmalte
vermelho, chamado por ela de “encarnado”. Morávamos numa casa que tinha um
quintal de terra, com um pé de mamão, jabutis e areia. Como são férteis os
quintais na infância de uma criança!
Lembro da vez em que achei uma pá e resolvi cavar,
obstinadamente, na busca desenfreada por um tesouro que julgava estar escondido
debaixo da terra. Cavei fundo com a alegria de uma meninice saudável, sem ainda
saber que a preciosidade estava guardada, mas em minha mente infantil, repleta
de devaneios.
Na adolescência, mergulhando no universo drummondiano,
encontrei meu espelho em tantos poemas. A melancolia encolhida na alma, a
acidez diante do lado indigesto da existência, o erotismo, o tédio avulso nos
bolsos das calças, um niilismo que sussurrava baixinho dentro de mim. Depois
vieram outros que gritavam alto na alma: Pessoa e seu desassossego;
Neruda, para confeccionar romances e tantos outros em prosa e verso. No quarto
de papai e mamãe, ambos professores de Português, escutávamos eu e meus irmãos,
os dois conversando sobre construções verbais, desafinando em alguns pontos de
vista sobre regência verbal, fazendo cara feia quando cometíamos erros graves
ao falar e assim crescíamos, convivendo em meio a provas de redação, trabalhos
de alunos e livros didáticos.
O privilégio de poder ter em casa os clássicos da Literatura
Brasileira, e de outros países, me fazia ler precocemente muitas obras
fundamentais ao meu ofício. Sorvi boas safras de livros em prosa e, sobretudo,
em poesia. Até tentei alguns versos tolos, tristes, esporádicos. Depois,
descobri que podia ser poeta adotando um modo especial de enxergar a
vida. Mas escolhi a palavra como ferramenta da minha sobrevivência,
equilibrando-me no fio que separa a beleza poética da vida e a rigidez dos
fatos jornalísticos. Meus dois irmãos optaram por caminhos opostos e preferiram
ter menos problemas na cabeça, desvendando o mundo lógico dos números, equações
e algoritmos: Sérgio Alexandre é contador e a caçula, Alessandra, é analista de
sistemas. A única que não nasceu normal fui eu.
A leitura alimenta a alma, fornece o vigor e a densidade
necessária para mergulhos mais profundos nas questões existenciais. É bem
verdade que não se proliferariam tantas caraminholas na minha mente saliente.
Mas jamais conseguiria viver repetindo os mesmos refrões dos miquinhos
amestrados da obviedade social e nem mascando o tédio de uma existência
superficial.
* Texto escrito em 2009, após a leitura de
O Reizinho Mandão para minha sobrinha Luísa Valente Melo de Figueiredo, que
hoje se tornou uma pequena devorada de livros!
quinta-feira, 23 de abril de 2015
Uma luz no mundo
Sal da Terra, de Win Wenders e Juliano Salgado, é uma
experiência impactante. O filme sobre a vida do fotógrafo brasileiro Sebastião
Salgado transcende o registro biográfico para arrebatar um espectador acanhado
em suas questiúnculas existenciais.
Os que pressentem
certa finalidade superior na existência terminam por perceber em Salgado o
exercício de uma missão. O missionário, com todas as fraquezas humanas, chega a
interromper seus cliques para deixar a câmera no chão e chorar diante das
atrocidades de uma realidade crua e absurda. O humano, à propósito, é o tema maior
da produção.
Para quem, a exemplo
desta concubina das palavras, escolhe um caminho profissional tendo o mundo
como álibi, assistir ao documentário é um êxtase permanente, gozo que oscila
entre a comoção e a indignação diante das brutais violações aos mais essenciais direitos
humanos.
Há também um espetáculo
exibido pelas lentes da câmera do fotógrafo: a fascinante diversidade de povos,
culturas e espécies planetárias. Tornamo-nos minúsculos. Deparar-se com o mundo
apresentado por meio da fotografia de Sebastião Salgado é algo que transforma as
nossas angústias e pendengas pessoais em verminoses.
Além da riqueza de imagens impressionantes, a narração é uma releitura daquilo que tanto pode dispensar informações - as fotos autoexplicativas com valor infinitamente superior a mil palavras - como pode se converter em polissemia de muitos temas.
Além da riqueza de imagens impressionantes, a narração é uma releitura daquilo que tanto pode dispensar informações - as fotos autoexplicativas com valor infinitamente superior a mil palavras - como pode se converter em polissemia de muitos temas.
Com fotos de Serra
Pelada, Salgado fala sobre a semelhança dos garimpeiros com os escravos. E
explica que não são escravos, exceto do desejo de enriquecer. Reconhecido
internacionalmente hoje, ele deixou uma sólida carreira de economista no Banco
Mundial para se dedicar ao talento que lhe fez mostrar ao mundo as
desigualdades sociais. A tela não mostra as prováveis dificuldades nesta
mudança radical de rota. Mas é justamente nisto que reside o mérito daqueles
que não se perderam no meio do caminho, que não se desviaram pelos atalhos de
suas ambições mesquinhas.
Sal da Terra é devassador. Os registros feitos dos
esquálidos em Ruanda, das doenças na África, dos genocídios brutais, das
populações de refugiados, dos trabalhadores do planeta, dos povos do nosso
continente, da tribo quase isolada na Amazônia onde vivem os índios da etnia Zo’é,
do nordeste brasileiro às regiões inóspitas são uma aula de Antropologia. As
fotos dos lugares quase inacessíveis da Terra também revelam o espírito de um
desbravador capaz de enfrentar temperaturas abaixo de 30 graus e se arrastar pelo
chão para captar detalhes daquilo que existe de mais sagrado no planeta, a
vida.
Sebastião Salgado
personifica, com sua existência, o significado da palavra fotografia: “escrever
com a luz”. Ele escreve o mundo com luz.
quarta-feira, 15 de abril de 2015
terça-feira, 14 de abril de 2015
Ecologia x Estresse
Ecologia e Estresse é o título do último livro do jornalista, ecologista e fotógrafo Moisés Matias. Agora, ele lança a proposta como curso regular, através da Universidade Livre. Matias criou o sítio Panakuí após uma crise de estresse que sofreu no final dos anos 90. "Tive que fazer o mergulho profundo em uma viagem de volta ao eu ecológico. Após a viagem, trouxe na bagagem a lição que compartilho com as
pessoas participantes do curso Ecologia e Estresse e que buscam uma vida
com qualidade e com um significado mais amplo para a existência", explica.
Após o curso, as pessoas interessadas poderão completar a formação,
tornando-se um multiplicador autorizado pelo autor a ministrar o curso
em outras áreas.
Venha, reserve a sua vaga pelo telefone: (98)9888 3372 com o jornalista Moisés Matias
quarta-feira, 8 de abril de 2015
Crise global da delicadeza
A sina feminina segue
por caminhos sinuosos, por águas que dançam, oscilando entre os extremos. Certos
desarranjos interiores, embora aqui comigo cada vez mais aquietados pelo tempo-rei,
permanecem como um fio de pavio, embebido em líquidos inflamáveis, por vezes
alçando voos suaves como flâmulas ao vento.
A avalanche diária
de afazeres jamais consegue soterrar a profusão de emoções ou apagar o sopro de
sentimentalidade que não se evanesce. O senhor da paixão contida de Morte em
Veneza, de Thomas Mann, por vezes, duela com a Lolita, de Nabokov.
Os dias ásperos de
labuta são incapazes de conter as vazões que fogem às razões. Carregar pedras
não impede que nasçam flores no caminho. Essa recusa à brutalidade dos dias é
própria da espécie. Nós, fêmeas, possuímos certo ardor interior, moldado para
parir, com a singular intensidade de, ao mesmo tempo acolher e libertar
sentimentos incandescentes. E todo um acervo de emoções godê, tantas vezes classificado como "histeria".
O tema enrosca-se em
palavras sedosas, em tom confessional, mas é bem mais amplo do que simples diletantismo
feminino, de mimimis e tal. O mundo asfixiado por crises variadas tem perdido o referencial da
delicadeza, da comoção, da emoção. É fato que existem mulheres machos e homens com alma de mulher. As
crueldades que originam as patologias e problemáticas diversas da contemporaneidade
são geradas por aqueles que perderam a capacidade de se sensibilizar.
Certa vez, Clarice Lispector relatou: "Uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma delicadeza". No premiado livro O Deus das Pequenas Coisas, da indiana Arundhati Roy, a lição de que as coisas podem mudar é comovente.
Certa vez, Clarice Lispector relatou: "Uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma delicadeza". No premiado livro O Deus das Pequenas Coisas, da indiana Arundhati Roy, a lição de que as coisas podem mudar é comovente.
Acontece que, anestesiados pela vaidade, pela compulsão materialista ou pelas substâncias exaladas pelo nosso ego, somos transformados em zumbis, em mortos vivos que vagam pelo mundo perdidos, na eterna busca por algo que preencha o nosso insaciável vazio interior.
Nem é necessário
mascar as teorias em torno da coisificação do homem, da
competitividade do capitalismo, da ambição desenfreada ou das ameaças
planetárias.
Alguns equivocados só conseguem enxergar a fragilidade da existência
quando são visitados pela inexorável senhora chamada Morte.
A vida é frágil, muito frágil. E por um motivo simples, para nos ensinar a ser delicados.
A vida é frágil, muito frágil. E por um motivo simples, para nos ensinar a ser delicados.
Assinar:
Postagens (Atom)