quarta-feira, 27 de junho de 2012

AutobioFlavia



Esse meu gosto por opostos
essa mania de contrastes.
Não, nunca me contrate
jamais aposte.
Em mim, é pura sorte.
O contraditório desfila no meu auditório.
tímida e míope
melan - cólica e lírica
insuportavelmente feliz
sempre por um triz
doce e travosa
amarga e gostosa
urtiga de seda
amante das palavras
livros e livre
café e paixão
sal e lama
inocente e indecente
universo denso, com incenso
formigas no espírito
água por natureza
alma de mochileira
misantropa, ma non troppo
ermitã e tantã.
sempre na contramão
matéria-prima de amorosidades suaves
o eco das risadas de Maria Clara e Luísa Valente

E Isabella, o mais novo raio de sol na janela
o olhar singelo do avô da minha vida
a última Flor do Lácio que papai me deu
a lã protetora da minha mãe Dolly em meu espírito sem abrigo

as saudades e maldades do coração ladrão
Mon Chouz, you, usted que nunca esteve e agora sempre, sente.
os vinhos filosóficos, a dança dos encontros...
a Vida, generosa, escandalosa
e tanto faz, tanto mais...
Como Pessoa: “Seja eu leitura variada para mim mesmo”

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Tela de Karina Albuquerque


As pinceladas suaves, com leve toque erótico, resultam do talento de Karina Albuquerque, uma jovem de 25 anos, representante da nova geração de artistas plásticos maranhenses. Auto-didata, ela jamais frequentou escolas de belas artes, pintando como se escutasse a voz de sua intuição. 


A tela reproduz o descanso feminino, pós-gozo, que na acepção dos franceses remete ao significado de "quase morte".


Anônimas, exaustas e próximas da morte, nós mulheres alcançamos a utópica paz para nossas angústias e inquietações. São nestes efêmeros segundos que iludimos a ideia de saciedade de nossos intermináveis desejos, personificados no corpo labirintíco, oferecendo uma meia-resposta, em susurro, à clássica pergunta freudiana: "o que quer uma mulher?". 

Quem souber, morre, por alguns minutos.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Para que verve?


A ausência da escrita em quem faz dela um ingrediente vital é uma ausência de si mesmo. Pessoas, Clarices e outros mitos literários enfrentaram tal drama, nos seus momentos de insuficiência. Não se bastam os que recorrem à palavra, não são suficientes, somente a linha da escrita os preenche. O ato de escrever – ainda que se constitua um constante vir a ser, processo impermanente e inacabado por essência - tem o poder de demarcar territórios, de fundação das pequenas cidades feitas de nossas concepções, do estabelecimento das próprias leis, do arquitetar de sentimentos, do projetar ruas, avenidas e vielas por onde deverão trafegar nossos pontos de vista e de todo um movimento no sentido de quem ousa ser deus.
Sim, escritores são semi-deuses de suas próprias palavras, estas flechas poderosas, emitidas por arqueiros que escrevem, aliando força e habilidade, precisão e emoção e, sobretudo, com pulsação. Palavras também podem ser como pincéis: tons pastéis ou vermelho hemorrágico, abstracionistas, expressionistas, em textos sisudos ou desavergonhadamente exibicionistas.
Ainda que incontestável seja assim, alguns dias têm aspecto de musgo. A criação assume forma de pedra. As engrenagens enferrujadas dos ofícios repetitivos corroem a liberdade e condenam à morte a vida sob a asfixia da rotina. Mas os que sobrevivem como portadores de uma familiar compulsão pelo dito-escrito não conseguem, por muito tempo, permanecer sob a tirania da obviedade estabelecida. A rotina é letal. As letras são meu antídoto, palavras são meu “veneno antimonotonia”. Com elas, a vida volta a dançar!













quarta-feira, 6 de junho de 2012

Poeminha do Contra