quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Posologia das Noites Brancas

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

FELIZ DIA!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Refúgio para a Alma


A ilha de Taputiua foi o refúgio que me escolheu, no último feriado, para mais uma sessão de cura para as chagas de uma alma que carrega dentro de si o ardor de uma inquietação secular. O lugarejo fica em uma das pontas mais reservadas da Praia da Raposa, na região metropolitana de São Luís, alcançado somente com a ajuda dos moradores que vivem há décadas como verdadeiros guardiões daquele pedaço de terra.
Bastam poucos minutos para que a respiração ofegante de um cotidiano infectado se adapte a um ritmo lentamente natural. O coração, porventura descompassado por algum resíduo desconfortável, entra na cadência dos ciclos das marés e da lua.
A ilha é banhada por águas límpidas, com sabor de sal, o tempero da lama dos manguezais e assentada sobre a areia rica em pequenos tesouros já desaparecidos da maioria das praias do planeta: conchinhas, sarnambis e até búzios. Para chegar até lá são cerca de 30 a 40 minutos de trilha, sob o sol inclemente, saudando os aventureiros que enfrentam pequenos desafios, entre eles, o maior de todos, atravessar o mangue. Em determinado trecho uma espécie de “formigueiro” de filhotes de caranguejos, os chama-maré, surge diante dos pés, em um espetáculo da natureza, quase intacta. É a vida em estado bruto, surgindo de dentro das entranhas da mãe Terra.

O acesso ao paraíso escondido é um exercício que se assemelha às filosofias orientais do corpo, tais como o Tai Chi Chuan, exigindo controle do peso sobre o solo, leveza, atenção, harmonia. Caminhar sobre o mangue requer equilíbrio de bailarina clássica. Quem pisa sem fluidez, é sugado pela lama e afunda tal qual em certos reveses de nossas vidas, quando não conseguimos nos tornar leves e naufragamos. Aquele que não obtém a habilidade de “flutuar” sobre o lamaçal do manguezal pode se machucar seriamente com os gravetos de madeira ou, na melhor da hipóteses, ganhar um par de botas pretas do mais puro lamaçal. A conexão quase xamânica com a natureza é uma lição para selvagens urbanos, embrutecidos pela civilização de trânsito caótico, buzinas, pressa e neuroses modernérrimas. A natureza se impõe e obedece aos ciclos, sem atropelar cada etapa, em ritmo inalterável.
Após a odisséia do manguezal, é preciso atravessar durante 5 ou 10 minutos de barco para a outra ponta, uma praia particular, enfeitada pelas marcas de maçaricos na areia. O corpo mergulhado na água salgada aquieta-se e se deixa descansar dos fardos e tormentos mentais que desafinam diante da orquestra das marés, do movimento das nuvens e da dança solar que, aos poucos, vai lentamente diminuindo seu fervor. Inevitável pensar no futuro: quantos lugares assim ainda restarão no mundo? Maria Clara, Luísa e Isabella, adultas, poderão vivenciar momentos assim?

O almoço chega. Quilos de peixes pescados ali mesmo, diante dos nossos olhos são “tratados” pelas mãos abençoadas de dona Fátima, a senhora cujo quintal da casa dá acesso à trilha em direção ao paraíso e que lavou, com bondade de santa, minhas pernas sujas de lama. O peixe, recém saído do mar, é frito e também cozido e saboreado com farinha made in Maranhão. Reafirmo meu princípio de que o simples é um luxo.



















Da série: nasci para ser feliz

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Ser gay é pecado?*


*Texto: Cynara Menezes da revista Carta Capital


 “Orientação sexual não é o que vai definir a nossa salvação”, afirma o bispo primaz da Igreja Anglicana no Brasil, dom Maurício Andrade. “É muito provável que as pessoas homoafetivas fossem acolhidas por Jesus. O Evangelho que ele pregou foi de contracultura e inclusão dos marginalizados”, opina. Segundo o bispo, ao mesmo tempo que não há nenhuma menção à homossexualidade no Novo Testamento, há várias passagens que demonstram a pregação de Jesus pela inclusão. Não só o conhecido
No Evangelho de João, capítulo 4, Jesus está a caminho da Galileia, partindo de Jerusalém. Cansado, decide descansar ao lado de um velho poço, em plena região da Samaria, cujos habitantes eram desprezados pelos judeus. E inicia conversação com uma mulher samaritana que vinha buscar água, e lhe oferece a salvação da alma, para espanto de seus próprios apóstolos, que a consideravam ímpia. Também quando Jesus vai à casa de Zaqueu, o coletor de impostos decidido a passar a noite lá, os discípulos murmuram entre si que se hospedaria “com homem pecador”. Mas Jesus não só o faz como também oferece a Zaqueu, homem rico tido como ladrão, a salvação. “Hoje veio a salvação a esta casa, por este ser também filho de Abraão.”
“Jesus inaugura o momento da Graça, os Evangelhos atualizam vários trechos do Velho Testamento. Ou alguém pode imaginar apedrejar pessoas hoje em dia?”, questiona dom Maurício, para quem a interpretação da Bíblia deve se basear no tripé tradição, razão e experiência cotidiana. “Quem interpreta que a Bíblia condena a homoafetividade está sendo literalista. Cada texto bíblico está inserido num contexto político, histórico e cultural, não pode ser transportado automaticamente para os dias de hoje. Além disso, a Igreja tem de dar resposta aos anseios da sociedade, senão estaremos falando com nós mesmos.”
Também anglicano, o arcebispo Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz em 1984, lançou em março deste ano o livro Deus Não É Cristão e Outras Provocações, que traz um texto sobre a inclusão dos cidadãos LGBT à Igreja e à sociedade. Para Tutu, a perseguição contra os homossexuais é uma das maiores injustiças do mundo atual, comparável ao apartheid contra o qual lutou na África do Sul. “O Jesus que adoro provavelmente não colabora com os que vilipendiam e perseguem uma minoria já oprimida”, escreveu. “Todo ser humano é precioso. Somos todos parte da família de Deus. Mas no mundo inteiro, lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros são perseguidos. Nós os tratamos como párias e os fazemos duvidar que também sejam filhos de Deus. Uma blasfêmia: nós os culpamos pelo que são.”
Nos Estados Unidos, a Igreja Anglicana foi a primeira a ordenar um bispo homossexual, em 2004. “Não por ser gay, mas porque a Igreja reconheceu o serviço e o ministério dele”, alerta dom Maurício. Foi com base na demanda crescente de respostas por parte dos fiéis homossexuais ou com -parentes e amigos gays que os anglicanos começaram a rever suas posturas, a partir de 1997. No ano seguinte, foi feita uma recomendação para que os homoafetivos fossem escutados, embora a união de pessoas do mesmo sexo ainda fosse condenada e que se rejeitasse a prática homossexual como “incompatível” com as Escrituras.
No Brasil, onde possui mais de 60 mil seguidores, a Igreja Episcopal Anglicana realizou em 2001 a primeira consulta nacional sobre sexualidade, quando seus fiéis decidiram rejeitar “o princípio da exclusão, implícito na ética do pecado e da impureza”, e fazer uma declaração pública em favor da inclusividade como “essência do ministério encarnado de Jesus”. Em maio deste ano, os anglicanos divulgaram uma carta de apoio à decisão do Supremo Tribunal Federal de permitir a união civil entre pessoas do mesmo sexo, baseados não só na defesa da separação entre Estado e Igreja como no reconhecimento de que as relações homoafetivas “são parte do jeito de ser da sociedade e do ser humano”.
Com o reconhecimento pelo Superior Tribunal de Justiça, em 25 de outubro, da união civil de duas lésbicas, é possível que a intolerância religiosa contra os homossexuais volte a se acirrar. No Twitter, Malafaia atiçava os seguidores a enviar e-mails aos juízes do Tribunal pedindo a rejeição do recurso. Em vão: a união entre as duas mulheres gaúchas, juntas há cinco anos, ganhou por 4 votos a 1.

A partir da primeira decisão do STF, foi criada, informalmente até agora, uma frente religiosa pela diversidade sexual, que reúne integrantes de diversas igrejas: batistas, metodistas, anglicanos, luteranos, presbiterianos, católicos e pentecostais. Coordenador do grupo, o metodista Anivaldo Padilha (pai do ministro da Saúde, Alexandre Padilha) diz que a homossexualidade é hoje um dos temas que mais dividem as igrejas, tanto evangélicas quanto católicas. “Quem alimenta o preconceito são as lideranças. Os fiéis manifestam dificuldade em obter respostas, porque no convívio com amigos, colegas ou mesmo parentes que sejam homossexuais não veem diferença.”

 

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A Hora e a Vez