sexta-feira, 29 de abril de 2011

POEMA DE ALICE RUIZ PARA S(EXTRA)-FEIRA!


sou uma moça polida
levando
uma vida lascada
 
cada instante
pinta um grilo
por cima
da minha sacada

 
(Alice Ruiz)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Pequenos grandes gestos.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A bela e a fera


No famoso conto, a bruxa malvada, escondida sob a aparência de rainha, indaga: “espelho, ó espelho meu, existe no mundo alguém mais bela do que eu?” Extasiado diante de sua própria imagem refletida, Narciso se atira para a morte no lago. No outro Lago, o dos Cisnes, o príncipe também se joga e morre afogado em águas turbulentas, após ser vítima de embustes e feitiçarias. É  a morte do amor pela ilusão. Em O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, a obsessão pela juventude e a beleza eternas acabam de modo trágico, após anos de pecados e crimes escondidos na pintura de um quadro.


O espelho e seu reflexo - a imagem - contém a força de elementos de ampla significância no terreno pantanoso das concepções de si mesmo e da respectiva subjetividade de cada um. Uma frase da escritora francesa Anais Nïn oferece pano para a manga do tema: “Não vemos as coisas como são. Nós a vemos como somos”. Adiciona-se à polêmica a miopia generalizada que costuma afetar todos nós, inclusive a esta que escreve.


Diante do exposto, a pergunta Quem eu sou? parece esconder o sentido original de Como eu me vejo? Ou Qual imagem que enxergo refletida em meu espelho? A metáfora do espelho traz em si a condição de não ser real. Imagens deformadas, ampliadas ou reduzidas preenchem os nossos campos de visão e surgem, frequentemente, no doloroso processo de auto-conhecimento. No livro Auto-Engano, Eduardo Giannetti alerta ainda no prefácio: “a relação mais íntima, traiçoeira e definidora de um ser humano é a que ele trava consigo mesmo”.


Quem já viveu a experiência pessoal e intransferível de descer os degraus até o subsolo de si mesmo em terapia, sabe o quanto é necessariamente doloroso encontrar consigo mesmo, enxergar-se, sem maquiagens, truques ou ilusionismos. Não raro os que têm a coragem de ir adiante se deparam com a feiúra nua e crua da alma. A escritora tcheca Monika Zgustova, já citada numa antiga postagem deste blog, adverte: “Portar máscaras durante longo tempo estraga a pele.”


Rubem Alves, no livro A Festa de Maria, incrementa o debate: “De todos os espelhos, a tristeza é o mais fiel. Vão-se as máscaras, as dissimulações, as linhas que os sentimentos mesquinhos cortam na pele e nos fazem feios”. O texto, porém, é alentador ao mencionar que “é no espelho da tristeza que a nossa beleza surge”. Na fábula A Bela e a Fera, ao final da história, o monstro se transforma em um belo príncipe, depois de receber um beijo da princesa que o amava muito além de sua aparência.
















sexta-feira, 22 de abril de 2011

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Oração aos sujeitos ocultos



Sou feita da transfiguração dos verbos irregulares, do intransitivo que transita pelo conjugar dos sujeitos.

Nos meus períodos e orações, celebro, com freqüência, as festas no convento, a alegria na abadia.




Entre o niilismo e o hedonismo, o primeiro me cai bem melhor, bem mulher.
Abomino os verbos defectíveis, os sujeitos indeterminados.


Sujeitos inde...terminados.

Prefiro as FR-ases com predicados.

A redundância me provoca enfado.

A rigidez alheia é um ex-fardo.

Sou fada de farda.

Vara de condão para minha magia é o dia.

A real-idade é um filme proibido para menores.

Ficção nunca foi meu chão.

Recito Barthes, na Aula do Collège de France: “a língua é fascista porque obriga a dizer”.

A semântica romântica nunca existiu.

Só a retórica caótica. E pura(mente) teórica.

Repito Paulo aos Coríntios: “A letra mata, mas o espírito vivifica”.

Meu preço é o apreço.

Sem pre(juízo).

Mostra o Mestre: “A verdade vos libertará”,

Reviso o poema lúdico, agora em edição ampliada:


Palavra com palavra só se escreve o dicionário de um amor analfabeto.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Cinema e Psicanálise

Beco da Bosta


Já utilizei este blog, diversas vezes, como se fosse um divã. Agora, peço perdão aos leitores por usar o espaço como despejo de dejetos, embora com o devido esfíncter, necessário à minha reputação, já algumas vezes alvo da fúria dos coleguinhas adeptos do bullyng jornalístico, preferindo a pauta pessoal aos problemas coletivos. Serve de consolo a máxima de que “só se joga pedras em árvores que dão frutos”.

Pois bem, nunca a palavra lugar comum adaptou-se, de modo tão perfeito à apatia generalizada, infestada na São Luís do Maranhão da atualidade. Asfixia-me acordar todos os dias e enfrentar o trânsito que congestiona as vias de uma cidade intumescida, sem vestígio algum de planejamento urbano, cortada por avenidas, em sua maioria, inauguradas para lamber as botas de algum general ou homenagear, com seus nomes, aliados da velha política predadora. Uma conta que não fecha: 300 mil carros circulando e 3 livrarias.

A manchete da semana ficaria bem melhor em uma cidade administrada pelo Tiririca, uma piada: PREFEITURA GASTA MAIS DE 40 MIL REAIS PARA ILUMINAR A PEDRA DA MEMÓRIA. O melhor a fazer é esquecer, dançar ao som das pedras do meu querido Ademar Danilo e rezar para pedir luzes aos gestores públicos! Isso sem mencionar a pouca vergonha dos buracos exibidos pelas ruas e do aeroporto sem teto que, na versão irreverente de Alice no País das Maracutaias funciona assim: quando o passageiro escuta TAM, não é um vôo da Companhia Aérea que chega, mas um telhado que cai e, na onomatopéia correspondente faz: TAM!

São Luís é uma cidadezinha aprazível com certos restaurantes que fecham para o almoço e outros frequentados por alguns arrogantes que arrotam às custas do Erário. Uma ilha cercada por praias defecadas pelos esgotos do boom imobiliário e de navios que deixam o desenvolvimento do Estado, ipsis litteris, “a ver navios”. Dados de janeiro deste ano mostram que o movimento de cargas no Porto do Itaqui subiu 1.756,99%. Ou seja: 853,60 mil toneladas de cargas movimentadas, sem um centavo destinado a tirar do atoleiro a estática situação dos desvalidos.

O sonho frustrado de fundar nestas plagas uma França Equinocial materializou-se, de modo inverso, na perversão do pesadelo ocorrido na Rebelião, no final do ano passado, no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, com presos vivendo seus dias de terror, nos moldes da Revolução Francesa, decepando cabeças de companheiros de cárcere e arremessando-as para o alto.

Repugnância ainda é a crise de inventividade que corrói a intelligentsia emaranhada, salvo raras e honrosas exceções, de alguns bravos que, volta e meia, esgrimam a mediocridade com suas produções culturais afiadas. E haja tolerância para assistir à invasão das bandas de forró eletrônico e as mocinhas  que cometem a atrocidade de repetir, esgoeladas, as letras das músicas, como se recitassem Sheakespeare. Isso sem falar no golpe do tapete vermelho para assistir Ivete Sangalo, por 300 reais, no “Show do Madison Square Garden”. Por que não fizeram no município de Nova Iorque, no sul do Estado?

Em pensar no que vovó Aimée me contava, de uma época em que as peças de teatro em São Luís eram encenadas em francês. Ah, Montmartre! Ah, Montamartre!














terça-feira, 12 de abril de 2011